Para planejar e efetuar a dragagem é necessário saber a profundidade dos berços de atracação onde os navios são acostados. O serviço que realiza essa medição é conhecido por poucos e atende pelo nome de batimetria.
De fundamental importância para o porto, a batimetria exige perícia no trabalho com equipamentos sofisticados e atenção nos cálculos. Tudo para que a contagem final não revele resultados errados.
Itamar Angelo Albino resume a técnica como identificar a medida da profundidade marítima até a superfície oceânica. Itamar realiza a batimetria do Porto de Santos para a Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo). Ele atuou no Departamento Marítimo da Empresa até o ano de 1993, quando se desligou. Mas até hoje continua realizando o serviço para a Codesp, porém sem vínculo empregatício.
A batimetria deve ser realizada periodicamente para indicar o nível de profundidade do cais. Isso porque existe o fenômeno do assoreamento. O assoreamento nada mais é que o processo em que a lama se deposita no fundo do canal devido ao “vai-e-vem” da maré.
Com o assoreamento, as profundidades dos cais e do canal acabam sendo alteradas. As áreas mais afetadas são aquelas que recebem maior corrente de água, em especial as próximas a mangues e rios.
A importância da batimetria está no fato de que um navio cargueiro ou de passageiros só pode atracar no porto quando o calado da embarcação é do mesmo tamanho ou menor do que a profundidade. Caso contrário, corre-se o risco do navio ficar encalhado e gerar sérios prejuízos aos envolvidos.
Itamar ressalta que cada área de atracação possui uma cota de profundidade máxima. Essa cota foi determinada a partir da forma como o cais (local de atracação das embarcações) foi construído. “Há áreas que podem ter onze metros de profundidade; em outros locais a cota pode ser de mais de treze metros. O importante é respeitar esse valor, pois se ele for ultrapassado a estrutura do cais pode não resistir e as conseqüências seriam trágicas”.
Ele diz que seu trabalho divide-se em duas partes. A primeira é realizada no escritório da Codesp, onde produz minutas e calcula que áreas devem ser medidas. A parte principal é o trabalho de campo, no qual vai ao mar efetuar o serviço prático.
Para isso, Itamar dispõe de uma pequena garagem náutica e de uma lancha, ambas disponibilizadas pela Codesp. Os períodos em que vai a campo são aleatórios. No entanto, dois fatores são fundamentais: o clima e a movimentação dos navios.
Pelo fato da lancha não possuir cobertura adequada, o serviço de batimetria só pode ser efetuado quando não há chuva e ventos mais fortes. Além disso, para realizar a medição, é necessário navegar próximo aos cais e pelos locais de atracação. Portanto, nas áreas em que navios estão atracados não é possível exercer o serviço. “De acordo com as informações que recebo de quando os navios vão embora eu me programo para ir até o local e fazer a medição”.
O tempo de levantamento da profundidade varia de acordo com o tamanho e a distância de cada área. Itamar conta que, em geral, a operação demora entre uma hora e duas horas. No entanto, com o deslocamento até o local, cada medição pode atingir até cinco horas de serviço. Ele destaca que há doze quilômetros de locais de atracação ao longo de todo o cais santista.
Equipamentos
A batimetria é efetuada por meio de equipamentos sofisticados e de elevado grau de perícia. O principal aparelho é uma sonda digital que expressa cartograficamente curvas batimétricas em um papel grafitado. Elas indicam no papel as profundidades nos diversos pontos analisados. Cabe a quem realiza o serviço calibrar o equipamento para permitir leitura precisa das variações do gráfico.
Outro aparelho utilizado é o transdutor. Ele é ligado á sonda e, submerso a cerca de 50 centímetros da superfície, recebe sinais do fundo do oceano através de ecos. Para que o leitor possa imaginar o aparelho, o transdutor tem o formato e o tamanho de uma vassoura.
Após efetuar o serviço e mapear a profundidade das diversas áreas do cais, Itamar passa as informações coletadas aos responsáveis pela dragagem no Porto de Santos. “A partir desse momento, a incumbência já não é minha. Me limito a fazer a medição”, afirma.
Com os resultados obtidos através da batimetria, é possível dragar as áreas do Porto da forma como elas foram construídas, sem afetar a estrutura do cais.