* enviada especial à Operação Unitas
O ponto de partida da Operação Unitas 47-05 foi a Base Naval do Rio de Janeiro localizada em Niterói. Os treze navios participantes saíram na manhã do dia 21 de outubro rumo a uma das mais tradicionais operações da Marinha do Brasil. Compondo a Força-Tarefa brasileira estavam as fragatas Rademaker, Independência e Liberal, a corveta Jaceguai e o submarino Tapajós. Pela Marinha da Argentina, o contratorpedeiro Almirante Brown, a corveta Robinson e o submarino Santa Cruz. A Espanha enviou a fragata Santa Maria e o navio-tanque Marqués de La Enseñada. A Marinha dos Estados Unidos veio com o contratorpedeiro Ross e a fragata Samuel B. Roberts e a Marinha do Uruguai com o navio de apoio logístico General Artigas.
A equipe do PortoGente viajou a bordo da fragata Rademaker comandada pelo capitão-de-fragata Newton de Almeida Costa Neto. Incorporada à Marinha do Brasil em 30 de abril de 1997, em Plymouth, Inglaterra, a fragata mede 131 metros, tem calado de 7,5 m e deslocamento de 4.200 toneladas. O sistema de armas deste navio é totalmente integrado aos sensores de bordo, capaz de atacar alvos submarinos, de superfície e aéreos.
Para esta missão a tripulação da fragata foi de 280 homens: 243 praças e 37 oficiais, sendo duas mulheres debutantes. Os exercícios aconteceram em alto-mar entre o Rio de Janeiro e Paraná numa distância de até 200 milhas da costa (cerca de 400 km).
O embarque
Todos sabemos que a cordialidade é inerente ao militar, mas devo confessar que alguns favores viram gentilezas para nós mulheres. Três praças nos ajudaram com a bagagem e quando percebi tudo já estava devidamente guardado no quarto, ou melhor, no camarim.
A sensação de isolamento que os homens do mar tanto falam é realmente sentida já desde a partida. Os primeiros minutos são de observação. Imagine uma sociedade em que cada um cumpre a sua função com responsabilidade e respeito. Em que cada um expressa nas ações a disciplina adquirida ao longo dos anos. É assim que este “mundo” funciona.
Para nós, civis, os olhares retratam o sentimento de cada um. Alguns mais receptivos, outros desconfiados. Natural, até o primeiro contato. Os militares são extremamente cordiais e treinados. Não se ouve uma palavra grosseira ou em alto tom.
Pela manhã, acompanhamos exercícios de qualificação com as aeronaves brasileiras. O helicóptero Super Lynx N-4001 fez sucessivos pousos e decolagens na Rademaker a fim de testar a qualificação dos pilotos e de toda a equipe, composta por quatro operadores, um orientador, dois reabastecedores, um líder e um oficial de lançamento e pouso (OLP). Pelo ruído no convôo (convés de vôo) ser muito alto e o vento forte, todos trabalham com abafadores (espécie de fone-de-ouvido), óculos e coletes. Boné ou qualquer objeto leve é proibido nesta área. A comunicação entre pilotos e o restante da equipe é feita por movimentos com braços e sinalizadores.
Hora do rancho
Seguimos viagem e logo um toque de apito avisava: é hora do rancho. Mas ainda eram 11h30 e já deveríamos almoçar! Chegamos à Praça D´Armas, um local agradável onde os oficiais fazem suas refeições. Sentei à mesa e, em instantes, percebi algo diferente. O imediato, um posto abaixo do comandante do navio, tem um lugar específico para fazer suas refeições. Cada oficial que entra ou sai deve dirigir-se a ele pedindo licença. Admirada com o respeito daqueles homens, pensei: “Eles realmente são muito disciplinados e educados”. A hierarquia é extremamente respeitada. 'Por favor', 'com licença' e 'obrigado' são expressões ouvidas a todo instante.
Exercícios táticos
Acompanhamos os exercícios táticos do passadiço, a estação onde se realizam as manobras, localizada na proa do navio. Mais três horas em pé e o cansaço chega. Ninguém reclama ou resmunga. A equipe totalmente organizada e concentrada sabe o que deve ser feito. Nesta fase da Operação, foram realizados exercícios táticos a 35 milhas da costa (aproximadamente 70 km). Os navios deveriam entrar em diferentes formaturas: em coluna (com a distância de 1.000 jardas entre eles) e em forma de diamante, com o intuito de treinar a defesa de um alvo de valor elevado.
Estréia no ar
No final da tarde, o convite chega: um vôo de helicóptero estaria programado para nós. Fortes emoções. A ansiedade da estréia com o medo do desconhecido fizeram o coração bater muito forte. Teve até choro, tudo devidamente controlado. Antes do vôo, recebemos todas as orientações de segurança do piloto. O difícil foi perceber que ao entrar na aeronave nada mais poderia ser dito, somente descrito por sinais. Nada se compara com a beleza do mar vista lá do alto. Fomos presenteados com o pôr-do-sol e depois de 25 minutos, aterrisamos. Já era a hora do jantar. Meus colegas me apressaram, mas eu não queria sair daquele estado de plenitude.
De volta à Terra, uma surpresa. O interior do navio estava escuro, somente luzes vermelhas iluminavam parcialmente os corredores. Demoramos a acostumar com as silhuetas.
O mais esperado
Depois de saborearmos um delicioso rodízio de massas, seguimos para o evento mais esperado do dia. O de tiro real com canhão e metralhadora. Este exercício começou com atraso de uma hora. Era necessário certificar-se de que não haveria qualquer embarcação pesqueira ou mercante na área no momento da atividade. A ordem era de que sete navios deveriam estar em coluna onde o central, no caso a fragata Independência, lançaria uma GIL (granada iluminativa) e todas as outras embarcações deveriam disparar em sua direção. Tripulação guarnecida com roupas especiais. Foram vinte e quatro tiros. Execução perfeita e sensação de dever cumprido.
Exausta, fui dormir. Outros rendiam os colegas no mesmo horário. Dia seguinte teríamos exercícios de ataque aéreo.