A maioria dos brasileiros (68%) é contra a venda de estatais de maneira geral, informa pesquisa da Ipsos em parceria com o professor Sérgio Lazzarini, do Insper. Apenas 17% são a favor, e esse percentual cresce conforme a renda e a escolaridade aumentam, mas em nenhuma das segmentações chega a um terço da população.
Profissionais protestam, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, contra venda da Eletrobrás.
Foto:Sindicato dos Urbanitários do DF.
Enquanto nas classes AB, 27% das pessoas são favoráveis às privatizações, a aprovação da medida cai para 9% entre os representantes das classes DE. Entre os que concluíram ensino superior, 28% são a favor da venda de estatais. Já entre os que não frequentaram escola, esse número cai para 7%. Foram entrevistadas 1.200 pessoas em 72 municípios do país na primeira quinzena de julho. A margem de erro é de três pontos percentuais.
O percentual de pessoas contrárias a privatizações é maior, embora oscile dentro da margem de erro, quando se discute a possibilidade de o Estado se desfazer de ícones da economia governamental como Petrobras (70%), Caixa Econômica Federal (71%) e Banco do Brasil (70%).
“Não é a primeira vez que dados de pesquisa mostram rejeição da opinião pública em relação a privatizações. O brasileiro é mais estatista e essa é uma agenda que terá relevância ao longo dessas eleições. Dado que o Estado brasileiro está com um elevado déficit, é certo que as privatizações serão uma alternativa aventada com o objetivo de minimizar ou equacionar esse desajuste, mas boa parte da população dá sinais de ser contra, especialmente se considerarmos Petrobras, Caixa e Banco do Brasil”, afirma Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos Public Affairs.
O especialista não acredita, no entanto, que a população vá em peso para as ruas se manifestar contra a venda de estatais, mas ressalta que os dados mostram que um candidato que defenda esse tipo de medida tem grandes chances de perder votos, especialmente nas camadas mais pobres.
Privatizações sob condições
A Ipsos também pesquisou a aprovação de privatizações para fins específicos. Um aumento nas respostas favoráveis à medida ocorre quando se sugere que os recursos serão usados “para custear programas sociais” (25%) e permitir “que pessoas em geral comprem pequenas participações acionárias” (23%).
“O estudo confirma uma acentuada preocupação com relação aos resultados dessas operações. Quando se coloca como condicionante da privatização o uso do dinheiro obtido ‘para abater a dívida pública ou cobrir gastos do governo’, o percentual favorável a desestatizações cai para 15% (dos 17% da pergunta feita de forma mais aberta)”, diz Lazzarini, do Insper.
Embora seja uma variação dentro da margem de erro, mostra que propostas de candidatos enfatizando as privatizações como forma de resolver problemas fiscais do Brasil têm pouco apelo popular, avalia o professor.
O apoio às privatizações de modo geral sobe para 28% quando se propõe que a venda das estatais seja acompanhada de medidas, lideradas por agências públicas, para garantir que os novos donos ‘não cobrem preços abusivos da população e ofereçam serviços de qualidade’.
“Esse resultado indica que um ponto de risco que parece sensibilizar mais a população é a possibilidade de o controle privado causar perda de bem-estar para a população. Visto de outra forma, indica que propostas de privatização deveriam ser seguidas de sugestões sobre como os serviços, sob controle privado, poderiam ser monitorados e regulados. Esse fato é particularmente preocupante no Brasil, dado que o aparato regulatório do País foi enfraquecido e aparelhado por diversos governos”, comenta Lazzarini.