Sexta, 22 Novembro 2024

Pelo cais do Porto do Recife escoam cargas para abastecer a vida comercial da cidade e no meio da dinâmica de embarque e desembarque, a vida dos próprios trabalhadores se constrói, muitas vezes, através das gerações. Lembranças e profissão compartilhadas entre pais, filhos e netos compõem as histórias de Sebastião, Marceli, Carlos, Durval e tantos outros trabalhadores cujas vidas estão atreladas ao balanço do mar.

No momento de recordar os tempos de infância, qual a memória mais marcante que uma criança pode ter? Para Marceli Cavalcanti foi conhecer um submarino. “Eu ainda lembro claramente da visita. Foi meu avô que me levou lá. A embarcação era preta e eu fiquei simplesmente encantada”, relata. O avô dela, Fernando Cavalcanti, 86 anos, trabalha desde jovem com operações portuárias e hoje divide as atividades da empresa da qual é proprietário – e que presta serviços ao Porto do Recife - com Marceli e o filho, Marcos Cavalcanti. “O porto é a minha vida e fico mais do que feliz em ver que minha neta e meu filho compartilham comigo dessa paixão”, pontua.

A relação entre cargas e navios também faz parte do cotidiano da família de Sebastião Félix (78). Hoje aposentado, ele operou guindastes por “25 anos, 8 meses e 8 dias”, como gosta de frisar. Das lembranças que traz, relata a alegria de ver a chegada dos navios que podiam vir de portos de todo o mundo. O encanto era tanto que deu o nome de embarcações para seis dos sete filhos: Lenonecher, Mageson, Begederlinda, Magdalena, Janeclay e Beangela Lima. Apenas o mais velho, Sebastião Félix Filho (54), fugiu dessa tradição, porém manteve outra: trabalha há 30 anos como operador de guindastes no Porto do Recife; mesmo cargo do pai.

Nos relatos entre os dois surgem recordações de anos atrás. “Quando eu era adolescente vinha ao Porto do Recife ver meu pai trabalhar e era incrível como ele conseguia operar aquelas máquinas enormes. Hoje sou eu que consigo fazer isso com facilidade”, relata Sebastião Filho. O pai completa a fala: “o que fica na minha memória é que a minha geração, a geração do meu filho e até dos meus netos [em referência a Beatriz e Diego Lima, os quais estagiaram no Porto] convivem com o cais”.

Conhecer pessoas de diferentes partes do mundo é outra rotina dentro do Porto. Essa é a memória relatada por Durval Ribeiro, inspetor, operador e sócio do pai, Divaldo Ribeiro (74), numa empresa de serviços relacionados à movimentação portuária. “A época das férias era incrível porque eu visitava o cais e era meio que uma aventura. Meu pai me levava para conhecer os capitães dos navios, eu brincava com os filhos deles e dava até para aprender outro idioma”, conta em meio a risadas. O carinho pelas atividades junto ao mar incentivou pai e filho a trabalharem juntos. “Eu ensinei tudo que podia sobre portos ao meu filho e ele aprendeu bem”, enfatiza Divaldo.

O vínculo com o mar através de gerações existe até quando os envolvidos não seguem a mesma carreira, mas compartilham recordações. Com 42 anos de serviço no Porto do Recife, o então presidente Carlos Vilar (71) lembra quando trazia os filhos – o que se repete atualmente com os netos – para ver os grandes cargueiros ou navios de turistas atracados no cais. Além disso, ele destaca outro ponto: “o Porto surgiu na minha vida no mesmo momento em que me tornei pai. Meu primeiro filho, Carlos Leonardo, nasceu em 1975, exato ano em que entrei na empresa”, conclui.

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