Quinta, 25 Abril 2024

Marco Morsch é professor, mestre em administração de empresas e consultor

Muitas empresas e gestores estão sucumbindo ao mundo VUCA. Como você já deve ter ouvido falar, mundo VUCA é o acrônimo que os militares norte-americanos cunharam para definir a dinâmica do mundo em que estamos vivendo e ajudar a enfrentar situações marcadas por um padrão formado por quatro forças - em inglês: Volatility (Volatilidade), Uncertainty (Incerteza), Complexity (Complexidade) e Ambiguity (Ambiguidade).

O termo se popularizou e tem sido adotado por empresas e líderes organizacionais para descrever o ambiente de negócios caótico, turbulento e em rápida transformação, tornando-se o contexto que hoje é considerado como o novo normal.

Diante deste novo contexto, muitas empresas não têm conseguido sobreviver ou estão tendo dificuldades para se manter competitivas. Igualmente, muitos gestores estão tomando decisões equivocadas e não sabendo como agir diante deste novo ambiente.

Entendendo o padrão VUCA: como se caracteriza cada uma das quatro forças?

A Volatilidade refere-se a natureza volúvel e dinâmica da mudança, bem como a velocidade das forças inconstantes que provocam a mudança e seus catalisadores. Situações do cotidiano acabam se tornando inesperadas ou mais instáveis do que você imaginava. Sua duração também é incerta. Um exemplo do cotidiano é o sobe-e-desce do dólar no mercado financeiro.

A Incerteza diz respeito a falta de previsibilidade, as probabilidades de surpresa e ao senso de perplexidade e hesitação na compreensão das questões e eventos. Os fatos e acontecimentos são incompreensíveis, pois carecem de dados e informações que não nos permitem ver o todo ou a figura completa. Novos modelos de negócio, bruscas rupturas na tecnologia e novos hábitos do consumidor surpreendem o mercado continua e inesperadamente.

A Complexidade abrange as múltiplas forças e questões indistintas e ao caos e confusão que cercam o ambiente organizacional. O volume de dados que envolve a realidade é astronômico e com uma interconexão interminável dificultando a análise do todo e das partes. Por exemplo, empresas globais precisam se adaptar a múltiplas leis, culturas e tarifas alfandegárias internacionais.

A Ambiguidade refere-se ao estado de turvação da realidade, ao potencial de erros de leitura e aos significados mesclados das circunstancias; à confusão de causa-e-efeito. A situação é cheia de aspectos desconhecidos e qualquer relação causal entre eles são completamente obscuras.

Acostumados a pensar de um modo diferente, que dava certo em um ambiente no passado, mas que não é pertinente para o cenário turbulento, incerto e volátil de hoje em dia, muitos gestores estão tendo dificuldades para tomar decisões acertadas. Sua capacidade de análise está comprometida, pois eles não conseguem perceber os riscos no novo contexto.

Qual o mindset, ou modelo mental, devemos desenvolver para sobrepujar o mundo VUCA e ter sucesso neste ambiente? Isto é, como deve ser um líder VUCA?

De uma maneira simplificada, definimos prosperar no mundo VUCA como um processo de pensamento metacognitivo, um mindset que vai pensar sobre o como pensar, um modelo de pensamento crítico no qual o líder e a equipe estão totalmente autoconscientes de seus pensamentos e da realidade que os cerca e atentos a suas habilidades para usar o pensamento lógico, o julgamento analítico e racional, bem como a evidencia empírica para tomar a melhor decisão neste contexto.

Esse modelo mental inclui os seguintes processos reflexivos: como identificar nossos pontos cegos; como redefinir/mudar nossos padrões de pensamento; como tomar melhores decisões em um ambiente com as características VUCA; como desafiar nossas premissas e comparar diversas perspectivas de modo a obter melhores alternativas de decisão; como envolver toda a equipe por causa de sua multidisciplinariedade e diversidade de percepções; como estimular a intuição e insights para soluções sem paralelo na racionalidade tradicional.

Competências para prosperar no Mundo VUCA
Após esta reorientação de mindset e como consequência, apresentamos 4 grandes competências, incluindo seus elementos constitutivos, que qualquer líder que deseje prosperar nesse contexto deverá desenvolver para sobrepujar o ambiente VUCA, ludibriando os efeitos negativos destas forças e conquistando os resultados desejados.

Estas competências são também chamadas de “Antidoto contra o VUCA” e são palavras em inglês que também tem o acrônimo VUCA: Vision (Visão); Understanding (Entendimento), Clarity (Clareza) e Agility (Agilidade). A seguir, comentamos cada uma delas.

- Visão (estratégica)
Esta competência envolve os seguintes elementos: foco, crença e alinhamento da visão compartilhada. Foco no sentido de dar direção para a organização, idealizar um futuro almejado que seja promissor e reflita o propósito da organização. Pensar globalmente e identificar oportunidades. Crença em si mesmo e nos outros, apoiado por fatos e evidências. Habilidade de comunicação e conexão. Facilidade para criar, fomentar e trabalhar em redes. Alinhar todos os colaboradores em torno do proposito e da estratégia. Garantir que todos os esforços convirjam para a diretriz corporativa e facilitar o compartilhamento dos valores organizacionais.

- Capacidade de entendimento (pensamento crítico)
Para lidar com a incerteza, a capacidade de análise e entendimento de ambientes complexos é fundamental. Elementos como curiosidade, empatia e mente aberta se tornam imperativos. Curiosidade para ver o mundo com outros olhos, se perguntar por que as coisas são como são, sem ideias pré-concebidas ou filtros que distorcem a percepção. Ver sob diversas perspectivas diferentes. Questionar constantemente desafiando o status quo em sua organização todos os dias. É o espírito de aprendiz. Empatia para pensar diferente, sob a perspectiva do outro, e mente aberta para evitar o dogmatismo e explorar novas ideias, refletir e buscar análises críticas construtivas.

- Clareza e amplitude
Para lidar com a complexidade, o líder precisa ter clareza. Elementos como simplicidade, intuição e pensamento sistêmico são essenciais. A simplicidade ajuda a reduzir a complexidade e destilar o núcleo de sua essência. Deve-se picar a gordura e tirar para o lado o excesso de nervuras, focando no puro e essencial. A intuição faz uso da dádiva da sabedoria, sem racionalização impeditiva, apoiada no instinto e na experiência do líder. O pensamento sistêmico é fundamental para abordar a realidade complexa em uma perspectiva holística, observando o todo e o modo como as partes interdependentes interagem, em outras palavras, compreender a dinâmica de funcionamento de sistemas complexos dinâmicos. Resiliência e flexibilidade são conceitos que a teoria dos sistemas ensina e que servem para lidar com ambientes complexos. O líder deve ser resiliente e flexível.

- Agilidade
Para lidar com a ambiguidade, o líder deve ser ágil. A agilidade envolve a capacidade de determinação, de inovação e de empowerment. Líderes determinados se adaptam rapidamente as novas circunstâncias e tomam decisões ágeis com confiança. Eles também são habilidosos na gestão de mudanças e nas transformações organizacionais. Estão sempre aprendendo e buscando continuamente novas maneiras de fazer melhor o que fazem. Eles fomentam a inovação incremental ou disruptiva. São ágeis em identificar o que precisam aprender e rapidamente adquirem o conhecimento e o know-how necessário. Eles também inspiram e empoderam os colaboradores. Saiba mais sobre liderança ágil em nosso artigo.

Como deve ser o ambiente de trabalho para vencer o mundo VUCA
Para vencer no ambiente VUCA, as equipes e o ambiente de trabalho devem fomentar algumas características que as tornarão compatíveis com o ambiente atual.

No contexto VUCA a equipe deve ter elevado índice de inteligência emocional e ter mente aberta. Ela não sofre de paralisia de paradigma, isto é, não tem conceitos cristalizados e imutáveis, questiona-se continuamente sobre suas premissas e pressupostos, não tem donos da verdade e opiniões tendenciosas. Seu conhecimento, opiniões e experiencia estão sempre sendo questionados e reciclados. O modelo tradicional de especialista no assunto como conhecemos não existe no ambiente VUCA.

O time utiliza ferramentas criativas e avançadas de solução de problemas complexos como Scrum, Agile, Big Data, User Experience e Design Thinking. Educação continuada e experimentação são motores energizantes utilizados frequentemente. Os indivíduos são automotivados e se inspiram no líder, que gerencia pelo exemplo. Todos os membros estão digitalmente interconectados e são especialistas polivalentes.

O ambiente de trabalho VUCA é dinâmico, informal e flexível. Diversidade, heterogeneidade e múltiplas perspectivas são imperativos. Diferenças culturais e geracionais são a regra. E o local de trabalho mais parece um playground do que um escritório.

A informação é abundante, fluída e multiplamente disponível. Os erros não são punidos. O trabalho é feito em qualquer hora e em qualquer lugar. Os trabalhos são compartilhados.

Para o time VUCA, o trabalho é aprendizado, o aprendizado é trabalho!

Para ilustrar o espírito que imbui este ambiente de trabalho, encerramos nosso artigo com a frase de Tom Hood:

“Em um período de rápidas mudanças e crescente complexidade, os vencedores serão aquelas organizações que podem manter seus ritmos de aprendizagem maior do que a taxa das mudanças e maior do que a sua concorrência”

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*Todo o conteúdo contido neste artigo é de responsabilidade de seu autor, não passa por filtros e não reflete necessariamente a posição editorial do Portogente.

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