Terça, 26 Novembro 2024

Milton Lourenço, presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)

Houve uma época em que as grandes economias ocidentais – Estados Unidos e União Europeia (UE) – queriam abrir seus mercados e, em contrapartida, esperavam encontrar mais espaço para colocar seus produtos nos demais países, inclusive nos sul-americanos. Essa época coincide com a abertura em 1999 das negociações entre a UE e o Mercosul. Antes disso, em 1990, houve a proposta norte-americana para a formação da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca), ao tempo de George Bush, pai, que previa a sua entrada em funcionamento até 2005.

Como se sabe, não houve muita receptividade por parte das nações do Cone Sul para nenhuma das propostas. A Argentina sempre foi um país muito fechado – tanto que ainda hoje suas exportações representam 15% do seu Produto Interno Bruto (PIB), menos que o resto dos países da região –, com pouca inversão estrangeira, o nível mais baixo da região, e nunca se mostrou aberta ao diálogo. O Brasil, por sua vez, à época de Fernando Henrique Cardoso, mostrava-se mais aberto a entendimentos, até à chegada de Lula à presidência da República, em 2003, quando optou pela chamada cooperação Sul- Sul, que privilegiava a colaboração com os países do Terceiro Mundo.

O resultado disso foi que o Mercosul virou um fórum de debates político-ideológicos e tanto Brasil como Argentina trabalharam nos bastidores pelo fracasso da Alca. Já as negociações com a UE para a assinatura de um acordo de livre-comércio arrastam-se por quase duas décadas.

Como a vida se faz em ciclos, hoje, os papéis se mostram invertidos. O Brasil, com o presidente Temer, e a Argentina, com o presidente Mauricio Macri, defendem maior inserção de seus países no mundo, mas, desta vez, são Estados Unidos e UE que não estão muito dispostos a conversas. Com Trump, os Estados Unidos adotaram uma política isolacionista e ameaçam até implodir o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês), que reúne também Canadá e México. Já a UE vive momentos de indefinição, com eleições em vários países e uma onda de protecionismo, especialmente na França, onde as empresas agropecuárias temem a concorrência dos produtos sul-americanos.

Em função disso, o Mercosul perdeu velocidade nos últimos anos, passando por uma fase de esgotamento. Portanto, necessita urgentemente de uma nova agenda, que poderia incluir um acordo com a Aliança do Pacífico (México, Peru, Chile e Colômbia). No mais, só lhe resta apostar na próxima reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), prevista para dezembro em Buenos Aires, e aproveitar, quem sabe, a abertura que se vê na Ásia, especialmente nos países do Pacífico.

Seja como for, a OMC prevê que em 2017 o comércio internacional crescerá 2,5% em relação a 2016, período em que o crescimento foi de 1,6%. Como os preços estão estabilizados, o Mercosul precisa se remodelar e mostrar-se mais unido para aproveitar esse momento.

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