Coriolano Xavier, vice-presidente de Comunicação do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM
Safra recorde, com mais de 220 milhões de toneladas, dinheiro em caixa e não deu outra: mais uma vez o agronegócio deu um alento para a economia, pois as exportações de soja foram o destaque no bom resultado da balança comercial brasileira de março último, com um crescimento de 16% sobre as vendas externas da oleaginosa no mesmo mês do ano anterior.
Em março de 2017, o Brasil registrou superávit de R$ 1,4 bilhão nas contas externas, segundo divulgou nesta semana o Banco Central, que é o melhor resultado para um mês de março desde 2005, quando houve um superávit de R$ 1,7 bilhão. Com outro detalhe: desde maio do ano passado o país não apresentava um superávit nessa conta corrente, que reflete o balanço entre transações comerciais externas e transferências financeiras entre países.
O efeito do agronegócio vai além, pois as projeções do Banco Central também indicam que o Brasil tende a registrar outro forte superávit no balanço das contas externas de abril, de novo da ordem de R$ 1,4 bilhão e ainda sob o impulso das exportações de produtos agrícolas.
Outro ponto interessante revelado pelo comportamento das transações externas é a entrada de Investimentos Diretos no País (IDP), que foi de R$ 7,1 bilhões em março, de acordo com o Banco Central, fechando o trimestre com um ingresso de R$ 23,9 bilhões de IDP. Recursos esses que são aplicados no setor produtivo do país, em implantação de novas de unidades de produção ou aquisição e modernização de estruturas existentes.
Aliás, na perspectiva dos últimos 12 meses a entrada de investimentos diretos atingiu R$ 85,9 bilhões, superando em quatro vezes o déficit do Brasil em suas transações correntes, que foi de $ 20,5 bilhões, o que configura uma relação bastante positiva. E isso tudo tem a ver com a melhora das perspectivas da economia brasileira e aí, de novo, tem o dedo importante do agro, além de algum avanço institucional nas “reformas”.
São muitos os desafios que o Brasil tem pela frente para recuperar seu tônus econômico. O resgate da energia produtiva e de produtividade da indústria é um deles, tendo a ver com o seu fortalecimento em áreas tecnológicas inovadoras e de mercados ascendentes no exterior, como é o caso dos alimentos.
Nesse sentido, a sociedade brasileira precisa assumir, de vez e com ênfase, a vocação do país no agro, lembrando que ele também é motor para uma indústria de ponta e serviços tecnológicos de vanguarda, capazes de gerar cada vez mais mercadorias de valor agregado -- e não apenas commodities -- para o mundo. Isso não é sonho, é história.