Cláudio dos Santos Moretti é especialista em Segurança Empresarial, pós-graduado em Gestão de Crises corporativas e em Inteligência Estratégica.
As empresas sempre buscaram lucros e a empresa é criada com este objetivo, mas além da competitividade, cada vez mais acirrada, com novos concorrentes e novas tecnologias que podem vir de qualquer lugar do mundo, (vide a China com os seus produtos no nosso mercado), ainda existem outras formas de perdas da lucratividade empresarial.
Uma delas são as fraudes e, de acordo com estudos realizados pela empresa de auditoria KPMG, a perda financeira das empresas brasileiras e americanas em fraudes representam 5% do Produto Interno Bruto (PIB) dos respectivos países. E que 74% das empresas da América Latina disseram ter prejuízo com fraudes, sendo que corrupção e suborno representam 79% deste índice.
Durante o Seminário sobre Fraude na Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, ocorrido em 31/10/13, o consultor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), João Peres, informou que as pesquisas indicam que a única certeza é a fraude e que ela está diretamente ligada à corrupção.
Entre 183 países pesquisados, o Brasil aparece em 73º lugar nas fraudes.
Em outro levantamento feito com 150 países pela Global Financial Integrity com o apoio da Ford Foundation e da Financial Transparency Coalition demonstrou que entre 2002 e 2011 foram desviados um total de US$ 5,9 trilhões através de crimes, corrupção e evasão de impostos e que só no Brasil, 192 bilhões de dólares foram desviados.
Não se engane: quando uma fraude é identificada é porque ela já acontecia a bastante tempo. Nunca é a primeira vez. Neste caso é bom conceituar a fraude e diferencia-la do erro.
De acordo com o American Institute of Certified Public Accoutants (AICPA), instituto norte americano responsável pelo estabelecimento das normas de auditoria, a fraude pode ser conceituada como qualquer ato ou omissão intencional planejado para causar engano a terceiros, já o Erro é um ato não intencional na elaboração de registros e demonstrações contábeis, que resulte em incorreções deles.
A fraude engloba todas as áreas da empresa, e pode ser mais abrangente do que o que se pensa inicialmente. Ela ocorre com mais frequência nas áreas contábeis, administrativa e financeira, além dos processos. Elas podem ir desde a mentira e burla, a conivência, a pirataria ou estelionato, entre outros tipos.
As Por que as fraudes ocorrem? Apesar das diversas ferramentas de controle, auditorias, etc. a fraude depende das ações das pessoas, as quais agem de maneira inescrupulosas, contrariam as normas de conduta ou o código de ética da empresa e, muitas vezes colocam a empresa numa situação desfavorável no quesito confiabilidade e credibilidade ou ainda podem causar um grande escândalo.
De acordo com João Peres, consultor da FGV, os investimentos realizados pelas empresas para evitar as fraudes são de 40% em tecnologia, 50% em processos e 10% em pessoas (recursos humanos). É justamente nestes investimentos que observamos as maiores motrizes para as fraudes. Na revista Exame, Allen Morrison, professor da escola de negócios suíça International Institute for Management Development, disse que “um executivo que comete desvios éticos tem mais chance de destruir uma empresa. Segundo ele, um escândalo pode custar mais caro a uma empresa do que uma estratégia medíocre”. Ainda segundo ele, “desvios éticos podem destruir para sempre a imagem de uma empresa. Por isso, o melhor líder é o que tem bom caráter. Hoje, as notícias atingem dezenas de países quase instantaneamente. É um mundo novo, de enorme transparência. Isso se aplica ao comportamento dos executivos e ao que eles dizem e como dizem. O mesmo vale para as companhias. Se forem flagradas em atitudes antiéticas, sofrerão as consequências da má fama”.
Ainda no seminário de fraudes na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o gerente de ética da empresa de consultoria ICTS Internacional, Renato Almeida dos Santos, explicou como a compliance pode ser uma ferramenta de prevenção da fraude organizacional. Ele afirmou que “dentro das corporações, 13% dos colaboradores agem de forma antiética, 60% agem conforme o ambiente e 27% não agem de forma antiética”. Ele comentou que “Dinheiro não é o único motivador das fraudes, existem muitos outros, como status, por exemplo”.
No mundo em que vivemos, onde as pessoas honestas parecem que estão erradas e em extinção, manter-se honesto, ou seja, aquilo que seria normal, torna-se uma virtude.
Observe que essa forma de pensar também leva em conta o grau de instrução das pessoas. Vejam esta resposta a pesquisa publicada pelo sociólogo Antonio Carlos Almeida, autor do livro A Cabeça do Brasileiro uma das perguntas foi: "Como considerar a atitude do funcionário público que ajuda uma empresa a ganhar um contrato no governo e depois recebe dela um presente de Natal?". Para 80% dos que não sabem ler ou escrever, isso é apenas um "favor" ou um "jeitinho". Para 72% dos que concluíram a universidade, é corrupção e ponto final.
É claro que as fraudes não ocorrem com pessoas que não sabem ler, mas de acordo com comportamento humano numa sociedade onde o crime compensa e esse é um quesito essencial na prevenção da fraude. Um fator inibidor para a ocorrência de fraudes são as consequências com os que são pegos cometendo a fraude.
Essas consequências servem como inibidoras ou motivadoras, dependendo de como elas são aplicadas.
Conclui-se que, das ações possíveis para se evitar a fraude, pelo menos as mais motrizes, que dão causa a elas, são comportamentais, relacionadas a educação e consequências, porém também são as mais difíceis e demoradas de se alcançar. Portanto, o foco preventivo deve ser na pessoa, na ética, na educação e nas consequências sobre os desvios de conduta.
Só para lembrar um ensinamento pratico de filosofia do professor Dr. Mario Sergio Cortella, “Ética é o conjunto de valores e princípios que nós usamos para decidir as três grandes questões da vida: Quero?, Devo?, Posso? Tem coisa que eu quero mas não devo, tem coisa que eu devo mas não posso e tem coisa que eu posso mas não quero."
Este não é um problema exclusivo dos brasileiros, mas do ser humano e para mudar este estado de coisa devemos recordar que no final, a decisão é nossa.