Carlos Nepomuceno é doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense, jornalista e consultor.
Se existe algo que está atrapalhando o futuro é essa falsa dicotomia entre teoria e prática.
Se prática é entendido como algo útil, prático, pela lógica reversa teoria seria algo inútil, que só atrapalha.
Assim, pessoas práticas seriam aquelas mais úteis e pessoas teóricas são mais inúteis, se me permitirem, "masturbativas".
Sugiro outra abordagem. Existem pessoas mais operacionais e outras mais metodológicas e estratégicas, com funções diferentes na sociedade e mais ou menos úteis, conforme o contexto.
Entre os estratégicos existem os formuladores de metodologia, que trabalham com teorias. E os estrategistas que trabalham com filosofia.
Cada um destes perfis profissionais têm função importante, a depender do contexto.
Na estabilidade os operacionais ganham relevância e valor. Precisam recorrer a poucas revisões metodológicas, o que permite baixa taxa de debates mais abstratos. Aqui se trabalha com o presente e fatos visíveis, curto prazo e inovações incrementais;
Na instabilidade os metodólogos e estrategistas ganham relevância e valor. Precisam fazer revisões metodológicas e estratégicas mais profundas, o que nos leva à necessidade de debates mais abstratos. Aqui se trabalha com o futuro, médio e longo prazo e inovações disruptivas.
Assim, não podemos dizer que existe oposição entre teoria e prática, mas relação entre filosofia, teoria e metodologia, como instâncias diferentes de debates, conforme a dificuldade de lidar com cada problema.
Quanto mais vamos projetar o futuro e criar cenários dentro de instabilidade (como é o caso no Mundo 3.0), mais precisamos trabalhar com conceitos abstratos, que são práticos e úteis, pois nos permitem enxergar e agir, ao longo do tempo, com mais precisão.
Muitos que questionam que determinada abordagem é muito teórica está expressando, na verdade, que é um nível de debate mais abstrato do que está acostumado.
Pessoas que lidam com o operacional têm mais dificuldade de lidar com conceitos mais abstratos, pois vivem imersos no cotidiano.
Há perfis de pessoas que têm mais facilidade para serem metodólogos e estrategistas.
De maneira geral, são pessoas com perfil que lidam com mais facilidade com conceitos mais abstratos.
Porém, de fato, existe explicações filosóficas, teóricas e até metodológicas mais herméticas, mal explicadas, em que há dificuldade de expressão do autor para o leitor. Não são muito teóricas, são apenas mal explicadas, o que é diferente.
Muitos autores tiveram tradutores para que se pudesse entender as ideias de alguns gênios.
Pensar bem não significa explicar bem!
De fato, não é corriqueiro descrever de forma mais acessível conceitos abstratos, pois carecem de exemplos justamente por serem abstratos ( não concretos).
Tais problemas exigem esforço maior ou determinado perfil, ou atividade, para torná-los úteis e práticos.
É isso, que dizes?