Jorge Luiz da Paixão Filho é professor do curso de Engenharia Civil da Universidade Presbiteriana Mackenzie campus Campinas
É quase uma unanimidade a alegria de entrar em um aeroporto e poder viajar para lugares longínquos. Aeroportos permitem a logística do transporte aéreo de passageiros e cargas e para realizar todas essas atividades são utilizados diversos recursos naturais renováveis como água e não renováveis como petróleo. A água é um recurso renovável escasso em algumas regiões, assim o seu consumo racional e reaproveitamento deve ser praticado. Nos aeroportos a água é utilizada em grande quantidade para a limpeza geral, nos aparelhos sanitários e na irrigação de áreas verdes. Além do uso de água, essas áreas verdes precisam de nutrientes, nitrogênio e fósforo para o crescimento das plantas ornamentais. Para nutrir essas plantas são aplicados fertilizantes comerciais.
Para minimizar o consumo de água em atividades menos nobres como a irrigação de áreas verdes, diversos pesquisadores têm estudado o aproveitamento de efluentes líquidos gerados no próprio aeroporto. Um resíduo gerado durante voos nacionais e internacionais é o efluente de banheiros de aeronaves, coletado após o desembarque dos passageiros e levado para o tratamento em uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE).
No entanto, esse efluente apresenta uma composição química muito diferente dos gerados no aeroporto, pois apresenta uma composição semelhante a urina humana com nitrogênio amoniacal em elevada concentração, seguido por fósforo, além de produtos químicos utilizados para a limpeza do banheiro. Devido à presença desses produtos o tratamento biológico em ETE não é recomendável.
Para aproveitar esses resíduos foi desenvolvido um processo químico para remover a amônia e o fósforo em uma forma propícia de utilização na agricultura, ou seja, sem a presença de materiais indesejáveis. Essas substâncias foram removidas por precipitação química com a adição de magnésio, formando um mineral conhecido como estruvita (MgNH4PO4 6H2O). Esse mineral apresenta em sua composição dois nutrientes essenciais às plantas, nitrogênio, fósforo e magnésio, importantes para a fotossíntese. A recuperação de nutrientes em efluentes é importante pois o fósforo é um recurso não renovável obtido a partir da mineração.
O tratamento do efluente do banheiro de aeronaves com a recuperação de nutrientes contribui para a sustentabilidade a partir do fechamento do ciclo do fósforo. O mineral da precipitação química poderá ser utilizado nas áreas verdes dos aeroportos, reduzindo assim o custo de manutenção desses lugares, além do tratamento do efluente. Espera-se que em breve seja possível realizar ensaios com aplicação de estruvita em áreas verdes.