Daniel Sabará é CEO da Beraca, líder global no fornecimento de ingredientes naturais provenientes da biodiversidade brasileira para as indústrias de cosméticos, produtos farmacêuticos e cuidados pessoais
Um dos países com a maior riqueza em biodiversidade do mundo, o Brasil abriga, ao lado de outras 16 nações, 70% das espécies existentes. No entanto, ao falar desse tema, uma questão que merece destaque é o engajamento da sociedade com ações relacionadas à preservação do meio ambiente.
Ao avaliar o cenário atual, por exemplo, podemos dizer que o país atravessa um momento crítico, pois ainda são registrados índices elevados de desmatamento e muitos utilizam as riquezas naturais de maneira indevida. Uma das soluções para esse problema é a criação de estratégias que ajudem a conscientizar a população, de forma que biodiversidade e sustentabilidade sejam igualmente valorizadas. Afinal, a vida na Terra depende da existência dos biomas, e isso só será possível com a conservação do planeta e o uso sustentável dos recursos.
Nesse sentido, o extrativismo sustentável surge como uma solução eficiente. Em parceria com indústrias privadas e governos, as famílias que vivem em meio às florestas, em comunidades ribeirinhas e atuam em pequenos núcleos de agricultura aprendem, por meio de treinamentos e capacitações, a manter as árvores em pé, para que seus frutos e sementes sirvam como uma fonte de renda extra.
A ressalva é que não basta investir na conscientização. É preciso criar também mecanismos que proporcionem uma melhora na condição de vida, oferecendo uma alternativa sustentável de composição de renda. Do contrário, se houver apenas a preocupação com o meio ambiente e deixar a questão socioeconômica de lado, a necessidade pela sobrevivência, mais cedo ou mais tarde, fará com que a pessoa volte a atuar de maneira ilegal.
Outro ponto é o futuro das comunidades extrativistas, pois os jovens devem ser preparados para assumir o comando do trabalho nos próximos anos. O grande desafio é saber como lidar com uma geração que possui motivações diferentes, com uma dificuldade maior de se manter em suas raízes e que sempre busca o imediatismo nas ações, pois atividades ligadas à agricultura dependem de tempo para obter resultados expressivos.
No entanto, essa é também uma geração que tem muita força, com ideais que se assemelham à realidade daqueles que já atuam em prol da sustentabilidade. Podemos considerar que a grande vantagem para engajar esses jovens é o fato de muitos deles acreditarem no desenvolvimento sustentável, na mudança de realidade social e na quebra de paradigmas. É essa filosofia de vida que pode fazer a diferença daqui a alguns anos.
O mais importante disso tudo é enxergar que existem inúmeras possibilidades de transformar a realidade do planeta e contribuir de maneira efetiva com a sua conservação - o engajamento da sociedade é apenas uma delas. Ao acreditar no ideal de que o importante é fazer algo que tenha um verdadeiro sentido, é possível contribuir para que o desenvolvimento econômico e a conservação de biomas naturais caminhem na mesma direção.