Segunda, 25 Novembro 2024

Drauzio Varella é um médico oncologista, cientista e escritor.

O câncer de próstata é a neoplasia maligna mais prevalente entre os homens. O advento do PSA possibilitou fazer diagnósticos precoces da doença, antes detectada apenas em fases avançadas.

O PSA é um exame que permite avaliar, na corrente sanguínea, a concentração do antígeno prostático específico, proteína liberada em quantidades elevadas nos processos benignos e malignos.

A determinação anual dos valores do PSA a partir dos 50 anos, no entanto, tem sido questionada como método de “screening” populacional. Os argumentos são fortes:

1) parte significante dos diagnósticos precoces ocorrem em homens com tumores de crescimento lento, que jamais levariam à morte;

2) o tratamento por meio de cirurgia (prostatectomia) ou radioterapia está associado a complicações relevantes: impotência sexual, incontinência urinária, retites e cistites pós-irradiação, entre outras.

Um estudo mostrou que, no caso da prostatectomia, é preciso operar 72 pacientes para evitar um óbito. Portanto, 71 daqueles submetidos aos riscos e complicações cirúrgicas viveriam o mesmo número de anos, caso não fossem operados.

Essas constatações serviram de base à estratégia da observação ativa, segundo a qual o diagnóstico de tumores de agressividade baixa ou intermediária pode ser acompanhado sem necessidade de intervenção cirúrgica ou radioterapia.

Para esclarecê-las, foi realizado no Reino Unido o estudo ProtecT que recrutou 1643 homens de 50 a 69 anos, no período de 1999 a 2009.

Por sorteio, eles foram divididos em três grupos: observação ativa (543 homens), prostatectomia radical (553) ou radioterapia (545). A finalidade foi avaliar a mortalidade causada pela progressão da doença, o aparecimento de metástases e a mortalidade por outras causas.

Nesse período de dez anos, ocorreram apenas 17 mortes por câncer de próstata, assim distribuídas: oito no grupo de observação, cinco no de cirurgia e quatro no de radioterapia. Essas diferenças não são significativas estatisticamente.

O número de mortes por outras causas também não foi diferente.

Metástases surgiram com frequência mais alta nos homens acompanhados sem tratamento (33 casos), do que nos operados (13 casos) ou irradiados (16 casos).

Da mesma forma, nos pacientes simplesmente acompanhados, a progressão da doença foi mais frequente (112 casos) do que nos operados (46 casos) ou irradiados (46 casos).

Conclusão: nos casos de tumores de agressividade baixa ou intermediária, a mortalidade por câncer de próstata é baixa com qualquer tratamento ou na ausência dele.

Prostatectomia radical e radioterapia estão associadas a incidências menores na progressão da doença e no aparecimento de metástases.

O tratamento do câncer de próstata deve levar em conta dados individuais: idade, agressividade do tumor, condições clínicas, possibilidade de complicações, presença de doenças concomitantes, expectativa de vida e preferências individuais.

Está claro que muitos pacientes podem ser acompanhados por anos consecutivos sem receber tratamento.

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