João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical
Os estrategistas inimigos dos trabalhadores pensam poder dividir o movimento sindical brasileiro, afastar suas direções da base e, se for possível, separar o movimento da dinâmica da sociedade tornando-o irrelevante.
É o que conseguiram fazer nos Estados Unidos, desde a administração Reagan, obtendo lá a quase total dissociação entre a cúpula sindical e a base dos trabalhadores em suas orientações e escolhas.
Aqui no Brasil, no entanto, são muitas as dificuldades no caminho do isolamento social do sindicalismo.
A primeira delas e a mais importante é a experiência integradora do movimento sindical. Uma das singularidades da derrota da ditadura militar foi, exatamente, o casamento entre a pauta sindical e a pauta democrática da sociedade, criando uma dinâmica tal que a Constituição de 1988 consagrou direitos trabalhistas e sindicais importantes, apesar da correlação de forças políticas entre os constituintes e das incompreensões.
Outro exemplo é a política de valorização real do salário mínimo (interrompida pela primeira vez este ano) que se impôs apesar das adversidades e antagonismos e que revelou-se altamente favorável aos trabalhadores. Deve-se notar que a adoção dessa política decorrente da firme e unitária posição das centrais beneficiou basicamente os milhões de trabalhadores e aposentados que não formam, em última análise, a base do movimento sindical e das centrais, já que esta tem como parâmetro salarial mínimo os pisos profissionais constitucionais negociados.
Na atualidade, com forte recessão, um novo exemplo e uma nova possibilidade de integração social apresenta-se para o movimento na luta contra o desemprego.
Para meu uso, afirmo que o contingente de desempregados (torturadas as estatísticas) deve equivaler ao número de trabalhadores sindicalizados; são dois conjuntos que não têm quase nenhuma intercessão. No entanto, o empenho do movimento sindical para enfrentar os problemas dos milhões de trabalhadores desempregados é um poderoso exemplo de integração social e cidadania.
Para tal objetivo, uma iniciativa importante foi a reunião, a convite do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, e do presidente estadual da Força Sindical, Danilo Pereira, de duas dezenas de entidades sindicais fortes com base paulistana e a representação de quatro centrais sindicais, quando criaram a Frente Contra o Desemprego.
Além do eixo estratégico da luta produtivista contra os juros altos e pela retomada do desenvolvimento, os dirigentes sindicais discutiram uma pauta relevante destinada a enfrentar o desemprego em São Paulo, com medidas pontuais a serem discutidas com as administrações municipal e estadual, bem como o esforço necessário para integrar os trabalhadores desempregados (principalmente os jovens) e incorporá-los à luta comum.
Uma próxima reunião da Frente está convocada para o dia 26, no Sindicato dos Eletricitários.