Ciro Antonio Rosolem é vice-presidente de Estudos do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e professor titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu)
Temos visto notícias frequentes sobre desmatamento e focos de incêndio, ora na Amazônia, ora no Cerrado, ora em outros lugares. Isso normalmente é notícia porque dizem que está ligado ao aquecimento global. Se for admitido que o aquecimento é antrópico. A preocupação com o ambiente é justificável, pois é onde vivemos. Todos nós. É necessário o balanço entre produzir alimentos, fibras, matérias primas, energia e flores sem prejudicar a gerações futuras. Mas, esses bandidos fazendeiros destroem nossas florestas em busca de lucros indecentes. Este é o discurso. Essa é a notícia. A manchete. A mentira.
Ocorre que este discurso é antiquado, coisa do século passado, irreal, absurdo. Primeiro, porque a maior parte do desmatamento não é feita por agricultores ou pecuaristas. É feito por madeireiras, muitas vezes associadas à tribo presente no local. Mas isto é outra história. O discurso é antigo, porque, já há algum tempo, organizações internacionais realmente preocupadas com o ambiente já perceberam que o buraco é mais embaixo. De fato, em 2005, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento iniciou um estudo apoiado pela rede WWF (World Wildlife Fund – aquele do ursinho) sobre integração lavoura-pecuária.
O que motivou a WWF a apoiar estes estudos foi o grande sucesso, inclusive do ponto de vista ambiental, das tecnologias desenvolvidas pelo brasileiros, agropecuaristas, universidades e institutos de pesquisa, como a própria semeadura direta, com início nos anos 1970, depois os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária, com início nos anos 1990 e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e Integração Pecuária-Floresta a partir de 2000. Por outro lado, a Articulação Soja – Brasil realizou um debate nacional entre ONGs e movimentos ambientais e sociais para determinar critérios que deveriam ser atendidos na produção de soja. ONGs internacionais dedicadas à preservação ambiental perceberam, e apoiam, a revolução que ocorre na agropecuária brasileira. Parece que muitos, no Brasil, ainda não perceberam.
A semeadura ou plantio direto é a mais importante ação ambiental brasileira em atendimento às recomendações da conferência da Organização das Nações Unidas (Eco-92) e da Agenda 21 brasileira, indo ao encontro do que foi acordado na assinatura do Protocolo Verde. Como ação concreta, está em andamento, há alguns anos o programa ABC – Agricultura de Baixo Carbono, financiado pelo governo federal. Todos os novos e revolucionários sistemas desenvolvidos no Brasil tem como sustentáculo a técnica de semeadura ou plantio direto. Estima-se que 60% da área com lavouras no Brasil seja cultivada dentro dos princípios da semeadura direta. Isto faz do Brasil o país com maior área de agricultura conservacionista no mundo. Um pouco mais recentes são os sistemas integrados, ou seja, culturas graníferas e pastagens com ou sem florestas, crescendo juntas, fixando carbono, diminuindo emissão de CO2, melhorando a economicidade do sistema e proporcionando bem-estar aos que vivem no campo. Levantamento recente indicou que os sistemas integrados cobrem cerca de 11,5 milhões de hectares no Brasil, ou aproximadamente 20% da área cultivada.
Enfim, o Brasil tem uma agropecuária pujante, uma agropecuária que tem desenvolvido papel fundamental para que sejam cumpridas as metas ambientais propostas pelo nosso País. Viva nossa pesquisa agropecuária, viva nossos agricultores, viva nossos pecuaristas. Campeões na luta contra a fome e campeões da conservação ambiental.