Quarta, 01 Mai 2024

Rafael Antunes Padilha é mestrando pelo Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Culturas e Identidades Brasileiras pelo Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo

Com o congelamento dos gastos públicos o governo assinala uma opção desastrosa para o nosso futuro: em toda a sua incapacidade de planejamento, ou melhor, de elaboração de um projeto verdadeiramente nacional e sustentável de crescimento, ele opta pelo imediatismo da austeridade e abraça o mercado financeiro.

O futuro é tecnológico e deve começar a ser trilhado desde cedo. Como um time que decide elaborar um plano para conquistar um título, os trabalhos devem começar pela base, pela infraestrutura e o seu capital humano. A ciência e o emprego são dois elementos indissociáveis dentro de qualquer econômia avançada e dinâmica.

A tecnologia tem gerado impactos importantes nos índices de produtividade, nos hábitos de consumo, na produção de conteúdo, na geração de novas formas de organização de processos de produção e trabalho; inclusive alterando as diferenças de classe em países que historicamente haviam diminuído as distâncias entre seus habitantes. Qualquer pesquisa rápida pela internet poderá mostrar isso. Mas cada avanço traz consigo ônus que devem ser compensados.

A grande questão para o futuro está na conformação dos novos mercados e dos processos produtivos. A automação, é bem verdade, elimina a necessidade de mão de obra pouco qualificada, enquanto a digitalização age na redução drástica nos custos da inovação em organização, produtos e ideias. Essa dupla operação tem gerado níveis de riqueza sem precedentes mas para aquele capital humano com um nível de qualificação e instrução acima da média.

Trabalhos manuais ou repetitivos serão substituídos de maneira acelerada por robôs, novos modelos de negócios como Airbnb, über, tripadvisor, ou processos mais dinâmicos de criação e inovação. Os Estados Unidos possuem uma infraestrutura de inovação e pesquisa de alto nível, com altos níveis de entrosamento entre iniciativa privada e pública e um sistema de educação superior de excelência, como o caso da chamada Ivy League. O oposto do ecossistema brasileiro de inovação.

O diagnóstico para o Brasil não é animador. O crescimento milagroso dos últimos vinte anos, acarretado principalmente pelos governos social-democratas – mesmo no atual contexto de recessão econômica – não foi impulsionado diretamente pelos nossos investimentos em P&D. Muito menos na infraestrutura de ensino superior ou em alguma pretensa sinergia entre capital público e privado. Ao contrário do grande irmão do norte, os Estados Unidos, cuja experiência de desenvolvimento tecnológico e hegemonia política esteve intimamente associada à sua capacidade em inovar e produzir conhecimento, o caso tupiniquim é muito menos expressivo.

Sem as reinversões necessárias para a sustentabilidade do crescimento, o período de expansão do mercado consumidor e da ampliação da oferta de mão de obra esgotou-se rapidamente com a proximidade do pleno emprego. O mesmo vale para as tentativas frustradas de criar-se uma infraestrutura de pesquisa que aliava empresários e Estado. A ausência de capitais de risco em nosso sistema financeiro, a alta comoditização das exportações aliadas ao conservadorismo da nossa classe empresarial e a alta carga tributária acarretaram na debilidade que presenciamos atualmente na saúde da nossa economia.O Brasil tem um ambiente de negócios (maior do que o sistema tributário), que é hostil à inovação.

Todas as metodologias de mensuração de produtividade no Brasil têm apontado para o fracasso das políticas públicas, a letargia do empresariado e a expansão demográfica. O país perdeu a oportunidade de correr e alcançar os países mais avançados e se distanciar dos outros países em desenvolvimento. Com os atuais cortes e reformulações no governo Temer, alcançando a marca de redução em 40% de repasses ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações; congelamento dos gastos públicos com P&D e a atual redução em São Paulo de R$120 milhões do orçamento da FAPESP, o país pratica o contra-intuitivo e segue um receituário sem embasamento na realidade. Sem uma política intensiva em formação de capital humano e sem atrelar a pesquisa pública à indústria, as chances de emergirmos do oceano da crise diminuem a cada dia.

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