Segunda, 25 Novembro 2024

Gilberto Alvarez Giusepone Jr é presidente da Fundação PoliSaber e Diretor Executivo do Cursinho da Poli

Décadas atrás, o educador Anísio Teixeira constatava que, no Brasil, muito se falou e pouco se realizou em termos de Educação em todos os níveis. Mesmo os avanços inegáveis e significativos da última década não conseguiram preencher a histórica lacuna educacional do país. E agora, com a feroz contraofensiva neoliberal desfechada pela agenda do governo golpista, a situação tende a se agravar cada vez mais.

Esse cenário catastrófico pode ser constatado pelos resultados obtidos na avaliação do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos, na sigla em inglês) de 2015. Dois aspectos desses resultados merecem nossa atenção.

Considerando-se os números apresentados, constatamos que o Brasil está entre os piores países no ranking de desempenho dos alunos em ciências, leitura e matemática. A prova foi aplicada pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) para 23.141 alunos de 841 escolas, que correspondem a 73% dos estudantes de 15 anos.

Minha percepção é a de que os resultados dos próximos anos devem ser ainda piores. Se pensarmos que a previsão de investimentos em educação nos próximos 20 anos é gastar menos R$ 70 bilhões em educação, seja por conta dos royalties de petróleo, seja em razão do teto de gastos, o cenário deve se agravar ainda mais. É evidente que o dinheiro não traz a solução, mas a falta de investimento gera mais problemas ainda.

A avaliação internacional é realizada a cada três anos pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e traça uma comparação com o resultado de 70 países. A média mundial das pontuações foi de 493, 493 e 490, em ciências, leitura e matemática, respectivamente. O Brasil ficou muito abaixo, pontuando 401, 401 e 377, sendo que em matemática o país foi o último no ranking da América Latina. Além disso, grande parte dos estudantes brasileiros não alcançou a média necessária de conhecimento para exercer uma cidadania plena: em matemática, 70% ficaram abaixo; em ciências, 56%; e em leitura, 51%.

Há que se considerar, no entanto, que os atuais instrumentos de avaliação de grandes contingentes de alunos têm produzido diagnósticos extraídos, na maioria das vezes, unicamente do desempenho de estudantes diante de provas de verificação de proficiência.

Ainda que tais instrumentos sejam inevitáveis, seguramente são insuficientes para diagnosticar com profundidade problemas tão densos e que expressam números tão alarmantes.

Ou seja, o Brasil apresenta números inexpressivos em avaliações como as do PISA, mas ao mesmo tempo vale-se desses instrumentos para refletir sobre suas estruturas educacionais.

Em provas como essa os conteúdos são pensados de forma natural e a-histórica e a aferição de desempenho supõe que as relações com o saber são universais, cabendo a cada governo simplesmente aferir.

O PISA tornou-se referência de avaliação comparada, mas esses processos que comparam proficiência em matemática, leitura etc., pouco ou nada se aproximaram do chão da escola, onde se dá o trabalho docente e onde seguramente a observação das desigualdades e das diversidades tem muito a acrescentar ao trabalho dos que pretendem entender a suficiência ou insuficiência de conhecimento em qualquer disciplina.

A distância em relação ao chão da escola torna o professor o “elemento ausente” em todos esses processos e, sendo assim, a avaliação deixa de ser parte do ato pedagógico para ser, mais uma vez, aquilo que chega ao final sem contar com todos os sujeitos do processo.

Temos números catastróficos, sem dúvida. Mas também temos, como vimos, instrumentos insuficientes de avaliação. Além da ausência do professor nessas avaliações, há que se verificar se esses instrumentos não levam em conta apenas a qualificação da mão de obra para o mercado, não a educação cidadã.

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