Segunda, 25 Novembro 2024

Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)

Estudo realizado pelo Setor de Integração e Comércio (INT, na sigla em inglês) do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostra que América Latina e Caribe foram as regiões mais afetadas no comércio mundial pela atual crise, especialmente os países sul-americanos. Trata-se de um cenário que causa muita preocupação e que exige por parte dos governos do continente uma ação coletiva que promova meios de enfrentar não só a conjuntura recessiva como o aumento das medidas protecionistas que é previsto por parte dos parceiros mais desenvolvidos de outras regiões.

Ou seja, é necessário promover a diversificação comercial, já que houve, nos últimos anos, crescente especialização da região em produtos básicos, como se a América Latina e o Caribe estivessem condenados a voltar aos tempos do colonialismo, quando serviam apenas como fonte de fornecimento de matérias-primas. Isso significa que o Mercosul e outros blocos que fazem parte da região devem coordenar ações que promovam o comércio de produtos de valor agregado, que são aqueles que estimulam a indústria e a criação de empregos, o que se reflete na dinamização do mercado interno.

Segundo o BID, depois de dois anos de queda, as exportações de bens por parte da região contraíram-se a taxas anuais de 14,8% em 2015 e 8,5% até julho de 2016. Para piorar, as exportações de serviços, que em anos anteriores haviam compensado em parte a queda nas vendas externas de produtos manufaturados, desta vez, decresceram 2,4% em 2015, desde a crise financeira de 2009.

Ainda de acordo com o estudo, essa contração, que é mais acentuada na região que no comércio global, é consequência de elevada queda nos preços, especialmente de produtos básicos e do petróleo. Basta ver que, no começo da década passada, a inserção da região no comércio global era de 4% e agora de apenas 2,9% (sem levar em conta os números do México, que faz parte do acordo Nafta, com EUA e Canadá).

Em outras palavras: vive-se hoje uma crise muito pior que a de 2008, que durou oito meses e registrou rápida recuperação. Desta vez, a desaceleração já perdura há mais de 24 meses, registrando, segundo os analistas do BID, uma queda de 16% a nível mundial e de 21% a nível latino-americano. Isso se deu principalmente em razão do fim de um ciclo de crescimento que respondia pelos preços elevados das commodities. Ou seja, o crescimento que houve na década teve muito a ver com os preços elevados das matérias-primas. E que, em função disso, América Latina e Caribe aumentaram suas cotas de mercado em setores que perderam din amismo global.

Acontece que o motor do desenvolvimento mundial é o comércio de produtos manufaturados e não o de commodities. Portanto, é fundamental que se procure meios para se escapar dessa tendência de retorno ao estado primário de nossa economia, com o sucateamento da indústria da região, o que inclui acordos com países e blocos de fora do continente, já que o atual cenário não favorece o crescimento das exportações inter-regionais, mais intensas em manufaturados.

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