Domingo, 24 Novembro 2024

Paulo Metri é colunista do Correio da Cidadania

A história ocorrida em uma corrida de deficientes com síndrome de Down em Seattle, nos Estados Unidos, em 1992, é razoavelmente conhecida. De qualquer forma, a conto a seguir. No meio da prova, um dos corredores caiu e todos os outros se viraram, em um primeiro momento, para verem o que ocorria. Depois, retornaram para socorrê-lo, esquecendo a competição e passando a ajudar o colega de prova, que havia sofrido um revés. Uma corredora chegou a beijá-lo para confortá-lo. Após o acidentado se levantar, todos continuaram com a prova, porem juntos, não dando valor algum a ter que chegar primeiro. O objetivo deles era todos chegarem ao fim.

Em texto bem escrito, lido há anos, o autor, que minha memória impede de citar o seu nome, notou que a competição foi colocada abaixo da solidariedade para aquele grupo. Duas características humanas, a competição e a solidariedade, em muitos casos, antagônicas, sempre impulsionaram a humanidade. Não se pode negar que a competição humana é a responsável por muitos dos desenvolvimentos tecnológicos existentes. Por outro lado, a solidariedade é a responsável por inúmeras vidas salvadas na nossa história. Lembro que a competição é, em parte, a responsável pela exclusão, pela concentração de riqueza no 1% mais rico e, como consequência, pela existência dos miseráveis.

A Olimpíada, como ocorre hoje e é a única forma conhecida, trata-se de um local de veneração da característica competidora do humano. Nadando contra a correnteza, nunca gostei deste objetivo último. Qual a importância da superação de marcas anteriores? Estaria aquele medalhista querendo chegar mais próximo da marca de Deus? Porque Ele é o maior esportista do universo, por exemplo, Ele faz 100 metros em zero segundo. Por outro lado, o medalhista humano só tem uma parcela do mérito pelo seu feito, pois nasceu com características genéticas que o favoreceram para a prática do seu esporte. Teve sorte ao nascer, pois uma família lhe deu comida quando ainda crescia. Depois, teve sorte também ao encontrar o treinador certo para seu esporte.

Passada a fase da destruição, passemos para a da criação. Os grandes solidários da Olimpíada da solidariedade não competem entre si, mas se solidarizam com as solidariedades alheias. Imagino que estão, lado a lado, nesta Olimpíada o Papa Francisco, o mais humano e solidário Papa dos últimos tempos, pesquisadores da Fiocruz que buscam curas para doenças tropicais, que farmacêuticas competitivas não se interessam porque não as ajudam a maximizar o lucro, o grupo de voluntários que vão a hospitais, onde estão os pacientes de câncer infantil para minimizar a dor deles, e Lula, o presidente que tirou da faixa da miséria 42 milhões de pessoas. Enfim, Lula tirou da morte próxima, líquida e certa, um contingente humano próximo da população da Argentina. Assim, se houvesse a “Olimpíada da solidariedade”, Lula se sagraria campeão.

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