Sábado, 23 Novembro 2024

É engenheiro da SAE BRASIL, South America STA Senior Manager Site da Ford, e professor no Instituto Mauá de Tecnologia

Frederick Taylor é considerado o pai da administração científica. Buscou a eficiência e eficácia operacional na administração industrial e não há engenheiro que não a estude nas aulas clássicas de Teoria Geral da Administração.

Dentre suas crenças, destacaria a de que uma pessoa treinada pode produzir mais e com mais qualidade, e também a de que todas as fases do trabalho devem ser monitoradas a fim de que se saiba se as operações estão dentro das instruções programadas em um intenso micro gerenciamento.

Taylor escreveu o clássico "The Principles of Scientific Management", publicado em 1911, e desde então o livro se converteu de um clássico a uma bíblia. Todos nós da indústria temos uma pesada herança nos ombros como filhos que seguem os princípios do taylorismo com imenso sucesso. Com eles, transformamos empresas e fábricas em máquinas de desempenho.

A grande pressão competitiva, no entanto, impele as empresas a inovarem em taxas superiores às costumeiras para ganhar o cliente. A questão que se coloca então é se os processos atuais são aptos para a chamada inovação desruptiva, aquela que interrompe o curso normal de um processo em benefício do desenvolvimento de um produto com mais atrativos e acessível a mais pessoas. Bom exemplo disso é o dos smartphones.

Caminhamos a passos largos para economia e consumo colaborativos em que se pode perguntar qual é o lugar da criatividade nas normas e processos tayloristas.

Discutindo-se o tema da competitividade nas manufaturas, o setor produtivo mundial se assenta em três pilares bem robustos: o progresso exponencial da capacidade dos computadores, a grande quantidade de informação e as novas estratégias com modelos de negócio para a inovação.

Aos dois primeiros pilares, a capacidade dos computadores aliada à gama de informações que podem ser trocadas entre trabalhadores, máquinas, produtos e matérias-primas, convencionou-se chamar de Indústria 4.0. Segundo a consultoria Gartner, especialista em tecnologias para influenciar decisões de clientes a cada dia, nesse conceito a automação na unidade de equipamentos eletroeletrônicos da Siemens, em Amberg, teve seu resultado, e levou a um baixíssimo índice de de-feitos, registrando 15 peças com defeito a cada 1 milhão produzido.

Falando do último pilar, estratégias e modelos de negócios para a inovação, a americana Tesla Motors, fabricante de carros elétricos e uma das empresas mais inovadoras do mundo, abriu todas as 160 patentes para quem se interessar. No anúncio feito por Elon Musk, CEO da empresa, a parte que mais me inspirou foi: “A liderança tecnológica não é definida por patentes (a história tem mostrado repetidamente oferecer pouca proteção de fato contra um concorrente determinado), mas pela capacidade de uma empresa atrair e motivar os engenheiros mais talentosos do mundo. Acreditamos que a aplicação da filosofia open source para nossas patentes vai reforçar em vez de diminuir a posição de Tesla a este respeito”.

Enquanto isso, por aqui a participação da indústria de transformação no PIB brasileiro continua ladeira abaixo, de 27% em 1985 para menos de 13%. Não suficiente essa desindustrialização vem acompanhada por defasagem tecnológica. Em 2013, o Brasil comprou menos de 1,3 mil robôs industriais, enquanto a Coreia do Sul adquiriu 21 mil e a China, 37 mil. No Brasil, a idade média de máquinas e equipamentos é 17 anos, ante sete anos nos Estados Unidos e cinco na Alemanha.

Seria este o momento de desconstruir o conhecimento taylorista? Seria o momento de desaprender a utilizar procedimentos vigentes e construir outros conhecimentos? Onde está o procedimento que ensinou a Tesla Motor a tornar público seu portfólio de patentes? A indústria brasileira tem um claro caminho global a seguir. Para segui-lo, no entanto, precisa abandonar paradigmas que perderam seu campo de validade.

Precisamos formar empreendedores nas nossas universidades e cuidar deles quando chegarem às nossas corporações. Esta mudança precisa ser rápida sob risco da herança taylorista se transformar em uma casa mal assombrada.

 

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