Vice-presidente de Comunicação do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM
No palco da ONU, há dois meses, em setembro, o Brasil comunicou ao mundo as suas metas de redução das emissões de gases de efeito estufa, nossa contribuição no combate às mudanças climáticas: corte de 43% das emissões até 2030, relativamente aos níveis registrados em 2005. Este foi o principal item do compromisso brasileiro, que ainda incluiu outros desafios como a recuperação de 15 milhões de ha de pastagens degradadas, restauração florestal de 12 milhões de ha e integração lavoura-pecuária-floresta em 5 milhões de ha. Serão mais de 30 milhões de ha sob intervenção pró-sustentabilidade.
As metas brasileiras foram recebidas positivamente pela comunidade científica, de um modo geral. Principalmente por terem o potencial de influenciar o debate na 21ª Conferência do Clima, da ONU, que será realizada em Paris, de 30 de novembro a 11 de dezembro, sob a bandeira de um mundo de “carbono zero” e voltada para a meta global de acabar com as emissões ainda neste século.
O passado recente dá um crédito à capacidade brasileira de assumir um compromisso desse porte. No combate ao desmatamento, por exemplo, nosso resultado é razoavelmente bom, com uma redução de 82% nos últimos dez anos. E boa parte da viabilidade dos novos números prometidos pelo Brasil na ONU vem da perspectiva de integração de dados do Cadastramento Rural (esfera estadual) com os dados da Embrapa via Satélite, permitindo uma “fotografia” de sintonia fina da realidade florestal amazônica, que poderá identificar quem está fazendo desmatamento ilegal e também quais as áreas prioritárias para recomposição da cobertura vegetal.
O marco inicial de toda essa história de resgate climático e ambiental aconteceu em 1992, com a “Rio Eco”. Depois, a “Rio Mais 20” revigorou os compromissos das nações e agora, às vésperas do encontro de Paris, o Brasil tem tudo para colher os dividendos protagonismo que assumiu. Tanto pelos resultados que colecionou desde a pioneira reunião dos anos 90, como também pela oportunidade que a nova rodada representa para a afirmação do país como um dos líderes da nova sociedade e governança de sustentabilidade global, no século XXI.
Além disso, o Brasil está diante da oportunidade de abrir um novo caminho de crescimento, ao avançar no combate ao aquecimento global. Seja através da meta (já compromissada na ONU) de chegarmos a 45% de fontes renováveis em nossa matriz energética, seja através de novas tecnologias conservacionistas para o uso de matéria-prima reciclada, universalização da coleta de resíduos e proteção do solo, entre outros alvos. Estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro*, por exemplo, projeta um potencial de incremento da ordem de R$ 180 bilhões em nosso PIB, até 2030, se o Brasil evoluir em suas metas de combate às mudanças climáticas.
Por traz de tudo isso, fica ainda uma mensagem positiva, que o agro precisa contar para a sociedade sempre que possível. Como vários outros setores da economia, a produção do campo teve ou pode ter sua parcela na questão climática. Mas vem revisando esse papel, principalmente através de progresso tecnológico, e hoje está se tornando muito mais parte da solução, do que do problema.
(*) Coppe – UFRJ, in rev. Exame, setembro 2015.