Quinta, 21 Novembro 2024

Diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese),  membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES)

“Lippy e Hardy” é uma série de desenho animado da década de 1960, produzida por Hanna-Barbera. Lippy era um leão otimista, que andava com o amigo Hardy, uma hiena pessimista. Diante das aventuras de Lippy, Hardy dizia: “Eu sabia que não ia dar certo... Oh, dia, oh, céus, oh, azar...”. Em períodos especiais da vida democrática, como os processos eleitorais, essas duas figuras adquirem vida, e Hardy ganha muita evidência, o que faz parte do jogo.

Ganham destaque, há algum tempo, dados e declarações que procuram demonstrar que há no Brasil grande crise e descontrole da economia: o País está em recessão (técnica!), a inflação, descontrolada, o desemprego chegou, o déficit comercial subiu etc..

A vida não anda fácil no mundo e no Brasil, é verdade. A partir de 2007/2008, as economias desenvolvidas provocaram a mais grave crise do capitalismo desde 1929. “A grande recessão”, segundo economistas, trouxe aos países desenvolvidos alto desemprego, arrocho salarial, perda de direitos e da proteção social como remédio para a crise.
A atividade econômica caiu nos países em desenvolvimento, e a China passou a mostrar seu poder econômico. Com políticas anticíclicas, o Brasil permaneceu em pé, garantindo empregos, preservando salários e políticas sociais, bem como protegendo e incentivando a atividade produtiva. É muito difícil enfrentar essa crise. Há acertos e erros que fazem parte do risco de quem governa e decide diante de tantas incertezas.

O Brasil enfrenta inúmeros desafios de curto prazo: a pressão dos preços internacionais de alimentos; a severa seca, a mais grave dos últimos 60 anos, que comprometeu a safra agrícola, elevando preços de insumos, alimentos e energia elétrica; a Copa do Mundo, que reduziu a quantidade de dias úteis, com impacto sobre a atividade econômica; a desvalorização do real (R$ 1,6 para R$ 2,3 por dólar), que ajuda a proteger a indústria, mas tem impactos sobre preços; a queda na receita fiscal do governo; a redução na venda de manufaturados para a Argentina; a China ganhando espaço comercial na América Latina e no nosso mercado interno; a enorme pressão dos rentistas pelo aumento dos juros, entre outros.

Apesar disso, os números da atual conjuntura evidenciam que ainda estamos em pé:
• No primeiro semestre de 2014, houve aumento salarial em 93% das convenções coletivas, com ganhos reais entre 1% e 3%.
• O preço da cesta básica caiu nas 18 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), entre julho e agosto (-7,69% a -0,48%).
• O Índice do Custo de Vida do Dieese, na cidade de São Paulo, variou 0,68% em julho e 0,02% em agosto, arrefecendo.
• O mercado de trabalho formal criou mais de 100 mil postos de trabalho em agosto.
• O comércio calcula que serão criadas mais de 135 mil vagas no final do ano.
• O BC estimou a variação positiva do PIB para julho em 1,5% e indicou trajetória de queda da inflação.
• A atividade produtiva da indústria cresceu 0,7% em julho.

A ciência dos números é insubstituível para dar qualidade ao debate público e apoiar um olhar criterioso sobre a dinâmica da realidade. O desafio é correlacionar as informações para produzir o conhecimento e compreender a realidade.


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