publicado originalmente pela AFP
O julgamento do mordomo do Papa Bento XVI, Paolo Gabriele, que termina no sábado, é o primeiro da história do Vaticano que permitiu a presença de jornalistas, mas as vozes críticas afirmam que se trata de uma manobra para esconder um escândalo ainda maior.
Pela primeira vez, o menor Estado do mundo abriu as portas de seus tribunais para um pequeno grupo de jornalistas, que puderam cobrir para o mundo inteiro o julgamento mais relevante da história da Igreja católica moderna.
O acusado e várias testemunhas - entre elas nada menos que o secretário particular do Papa - foram interrogados neste julgamento que obedece a normas específicas do direito penal italiano que datam do fim do século XIX.
Por sua vez, o Vaticano abriu uma investigação após as queixas feitas por Gabriele sobre suas condições de prisão pela Gendarmaria do Vaticano.
Segundo Angela Ambrogetti, diretora do site católico korazym.org, os juízes foram "sérios" e o sistema judicial funcionou de forma eficaz.
No entanto, a rapidez deste processo surpreende muitos: abertura no sábado passado, duas audiências durante a semana, e no sábado seguinte conclusões da acusação e da defesa, última declaração de Gabriele e o veredicto final.
Além disso, a ação do presidente do tribunal, Giuseppe Dalla Torre, neto de um ex-diretor do jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, foi criticada.
Limitando-se estritamente à acusação de "roubo agravado" contra o mordomo, o presidente impediu que qualquer outro aspecto do caso "Vatileaks" fosse mencionado.
Assim, o presidente do tribunal interrompeu o acusado todas as vezes que este último tentava explicar o que motivou seus atos.
Durante a instrução, Gabriele havia explicado que queria lutar contra "o mal e a corrupção" no Vaticano e ajudar o Papa, que estava sendo "manipulado".
O nome do jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, a quem Gabriele transmitiu dezenas de documentos confidenciais publicados depois em um livro, foi apenas mencionado.
"A acusação de roubo encobre o centro do escândalo"