DAVOS - O Fórum Econômico Mundial terminou ontem, em Davos, na Suíça, com os líderes empresariais e de governos pedindo uma ação rápida e coordenada dos países para enfrentar a mais séria recessão global desde 1930. Os participantes do encontro temem os efeitos sociais da crise, principalmente uma instabilidade política maior nos países, ressurgimento do protecionismo comercial e um revés nas iniciativas em favor da globalização.
"O tempo das palavras está terminado. Este é um tempo para implementação e ação. Se voltarmos daqui a seis meses ou um ano e continuarmos falando as mesmas coisas, nós teremos falhado. A agitação social com que teremos de lidar será absolutamente dramática", disse a executiva Maria Ramos, da África do Sul, uma das coordenadoras do Fórum Econômico neste ano.
As cinco principais recomendações foram o apoio aos governos e instituições do G20 (grupo dos países mais ricos); medidas que levem em conta as mudanças climáticas e o suprimento de água; maior cooperação internacional contra a crise; valorização de questões éticas nos negócios; e restauração da confiança em relação ao futuro da economia.
Os participantes criticaram algumas decisões que, segundo eles, podem estimular o protecionismo e o fechamento de mercados a produtos e serviços estrangeiros. "Se formos dar uma resposta global à crise, temos de dar a todos os países a capacidade de aumentar seus gastos fiscais", ponderou Ricardo Hausmann, diretor do Centro para o Desenvolvimento Internacional, da Universidade de de Harvard.
A ameaça de uma volta ao protecionismo foi denunciada em uníssono pelos dirigentes políticos que defendem o livre-comércio sem nunca aplicá-lo ao pé da letra. Tanto o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, como o chinês, Wen Jiabao, criticaram as atitudes egoístas de desvio. "Na Rússia, não vamos recorrer ao isolacionismo e ao egoísmo", prometeu Putin no discurso de inauguração. "O protecionismo não ajuda em nada e só vai piorar e prolongar a crise", afirmou Wen.
As projeções para a economia mundial 2009 são pessimistas. O Fundo Monetário Internacional (FMI) espera um crescimento econômico de apenas 0,5% no mundo, o valor mais baixo desde 1945. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) diz que 50 milhões de trabalhadores podem perder seus empregos neste ano, caso a crise se agrave.
Brown
Durante o evento, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, defendeu a criação de um sistema de supervisão financeira mundial, visando a reunião do G20 que será realizada em 2 de abril, em Londres. "Temos um sistema financeiro internacional, mas não um de coordenação ou de supervisão mundial, apenas supervisores nacionais", declarou em coletiva conjunta com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Brown também afirmou que uma das prioridades seria a criação de um sistema de alerta rápido em todos os continentes e substituir a "atual regulação harmoniosa". O primeiro-ministro da Grã-Bretanha considera urgente a renovação das instituições financeiras internacionais, diante do fracasso do sistema financeiro global. Segundo ele, o FMI e o Banco Mundial foram criações visionárias quando foram fundados, mas estão ultrapassados e precisam ser reformados e redirecionados.
O Banco Central Europeu (BCE), por sua vez, está interessado em ganhar responsabilidades de supervisão financeira estabilidaz o sistema e isto é possível, segundo Jean-Claude Trichet, presidente da instituição financeira. Em um debate sobre o futuro sistema financeiro, Trichet explicou que o BCE "sempre esteve a favor de uma relação mais estreita entre os bancos centrais e as autoridades de supervisão."
Brasil
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que, apesar dos sinais de protecionismo, representantes de vários países mostraram-se dispostos a terminar as negociações da Rodada de Doha. Amorim teve uma série de encontros com ministros de Comércio e empresários dos EUA, durante o Fórum. "Ouvi as posições dessas pessoas, e há um forte comprometimento de se terminar, e rápido, as negociações da Rodada", disse. Segundo ele, os empresários dos Estados Unidos com quem conversou em Davos não representam todos os setores da economia daquele país. Mas, ressaltou o chanceler brasileiro, eles demonstraram "atitudes muito positivas" em favor de negociação e contra a onda de protecionismo sinalizada pelo presidente Barack Obama.
Fonte: DCI