Acusados de pertencer à máfia que falsificava carteiras de motoristas em São Paulo deixaram a cadeia nesta quarta-feira (17). O habeas corpus foi concedido no momento em que surgem novas escutas reveladoras. Esses mesmos acusados foram flagrados tentando destruir provas do crime.
Dezoito acusados já foram soltos e agora vão responder ao processo em liberdade. Entre eles: médicos, investigadores, delegados e donos de auto-escolas.
A decisão de libertar os réus foi do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes. Ao analisar o pedido da habeas corpus, o ministro entendeu que a prisão foi decretada de forma genérica, ou seja, o juiz usou uma única justificativa para todos os acusados. Na opinião do ministro, o fundamento da prisão teria que ser individual.
O Ministério Público teme pelo andamento das investigações. Os criminosos que respondem a um processo solto têm todos os meios de atrapalhar o processo.
Novas escutas telefônicas feitas com a autorização da Justiça mostram que integrantes da quadrilha tentaram destruir provas logo depois da operação, no começo do mês passado. Nas gravações, o homem apontado como um dos chefes do esquema orienta um funcionário.
Acusado: - “Tem polícia em casa. Tem que avisar as meninas para não ir para o escritório e nós "precisava" dar um jeito de limpar aquilo lá, cara. Não sei o que nós vamos fazer”.
Funcionário: - “Como é que faz, hein meu?”
Em seguida, o acusado liga para o escritório e pede que outro funcionário esconda os computadores.
Acusado: - “Deu certo?”
Comparsa: - “Deu. Nós estamos aqui dentro já”.
Acusado: - “Então, vai. Arrepia, cara, arrepia. Leva com fio, leva com tudo”.
Em uma outra escuta telefônica, um homem também acusado de fazer parte da quadrilha pede para a mãe esconder habilitações falsas.
Acusado: - “Sabe essa areia que tem aí?”
Mãe: - “Hã?”
Acusado: - “Cavuca aí e joga aí dentro”.
Mãe: - “Tá”
Acusado: “Está bom? Se achar xerox de documento, alguma coisa, pode jogar junto também”.
Dos 19 acusados de pertencer à máfia das habilitações, 18 negaram o envolvimento - são os que foram soltos. O único que continua na cadeia confessou a participação no crime e contou em depoimento os detalhes do esquema.
Ele disse que a quadrilha pagava semanalmente R$ 30 mil a dois delegados. Segundo ele, o mesmo valor era pago também a corregedoria do Detran, para evitar a fiscalização. Para os delegados da seccional de Mogi das Cruzes, a , o valor era maior: R$ 45 mil.
Durante as investigações, escutas telefônicas comprovaram o pagamento da propina.
Dona de auto-escola: - “Tem algo em espécie”
Dono de auto-escola: - “Eu não. O que acontece aí?”
Dona de auto-escola: - “Corregedoria.”
Dono de auto-escola: - “Esta aí?”
Dona de auto-escola: - “Hã, hã”
Dono de auto-escola: - “O cara quer cash?”
Dona de auto-escola: - “Hã, hã.”
Dono de auto-escola: - “Vixi. Tenho dez, serve?”
Dona de auto-escola: - “Serve.”
A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo esclarece que há inquérito instaurado a respeito da apuração dos fatos e que o mesmo corre em segredo de Justiça.
Fonte: G1 - 16 JUL 08