Sábado, 01 Fevereiro 2025

As vaias e os protestos com que os funcionários da General Motors (GM) reagiram aos discursos dos diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, na assembléia em que foi aprovada, por unanimidade, a proposta de redução do salário inicial dos novos contratados e de instituição de trabalho extra inclusive em fins de semana, são a prova mais clara do enorme fosso que se abriu entre os interesses dos trabalhadores e o radicalismo dos dirigentes sindicais.

A empresa vinha condicionando a execução de um programa de investimentos de US$ 500 milhões - que criarão mais empregos - à aprovação de sua proposta de mudanças nas regras de contratação e na jornada de trabalho. Ligados ao PSTU e à Conlutas, a mais radical das centrais sindicais, os dirigentes do sindicato, no entanto, vinham rejeitando o acordo com a montadora.

A posição dos sindicalistas ameaçava causar graves prejuízos à cidade e, sobretudo, aos trabalhadores cujos interesses lhes cabe defender. Com os investimentos, seriam preservados os 9 mil empregos atuais e haveria necessidade de novas contratações. O setor automobilístico é o segundo maior empregador da região de São José dos Campos. A cadeia de produção da GM emprega cerca de 20 mil pessoas na cidade.

As lideranças municipais estavam muito interessadas no projeto da GM, por causa do efeito positivo sobre a economia local e regional. Também os trabalhadores queriam os investimentos, e chegaram a exigir, com manifestações espontâneas na porta da fábrica, a realização da assembléia para votar a proposta, que a direção sindical vinha adiando.

No início deste mês, a diretoria da multinacional apresentou seu programa à comunidade. Condicionava a realização dos investimentos em São José dos Campos à criação de um banco de horas e à mudança da grade salarial dos metalúrgicos. O salário inicial seria reduzido de R$ 1,7 mil para R$ 1,2 mil. “O salário que propomos é o mesmo pago na fábrica de São Caetano do Sul, onde a mão-de-obra sempre foi considerada a mais cara do Brasil”, justificou então o vice-presidente da montadora, José Carlos Pinheiro Neto.

No início do ano, proposta semelhante foi discutida com o Sindicato dos Metalúrgicos, que a rejeitou. Em conseqüência, a GM decidiu investir em sua unidade de São Caetano do Sul, onde foram contratados 1.511 metalúrgicos. Os sindicalistas de São José dos Campos não deram importância à migração de empregos para outra região, e continuaram alheios ao fato de que, com seu radicalismo, acabariam por empurrar os novos investimentos para outra parte do País. Adiaram o quanto puderam a realização da assembléia dos trabalhadores para a votação da proposta. Conscientes da ameaça que o radicalismo traz para os empregos na região, alguns trabalhadores pretendiam recorrer à Justiça do Trabalho para terem o direito de discutir e votar a proposta dos empregadores.

A assembléia dos trabalhadores, afinal, se realizou na quinta-feira, com a presença de cerca de 7 mil dos 9 mil empregados, e aprovou por unanimidade a proposta colocada em votação. É possível que os sindicalistas considerem essa decisão uma vitória deles. De fato, em relação à proposta inicial da empresa há duas modificações. Abandonou-se a idéia de criação de um banco de horas, em troca da flexibilização da jornada de trabalho. Também não se estabeleceu nova grade salarial, embora o salário inicial dos novos trabalhadores tenha sido reduzido, como queria a GM.

A vitória, porém, é dos trabalhadores. As mudanças, vantajosas para eles e aceitáveis para a empresa, poderiam ter sido negociadas em condições muito menos traumáticas se tivesse havido menos radicalismo e mais bom senso da parte dos sindicalistas. As relações entre as empresas e o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos são tensas porque os sindicalistas têm pautado sua ação não pelos interesses dos trabalhadores e da comunidade, mas por seus próprios interesses políticos e ideológicos. Assim agindo, colocam em risco os empregos e o crescimento da economia regional.

Fonte: O Estado de S.Paulo - 23 JUN 08

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