Sábado, 01 Fevereiro 2025
A pausa de 30 dias da greve dos produtores rurais na Argentina, anunciada ontem pelas entidades organizadoras do movimento, ainda não traz alento à boa parte dos brasileiros que comercializam com o país vizinho. Entre os setores prejudicados está o de alimentos - tanto fabricantes de chocolates e leite em pó, como, também, os atacadistas exportadores e importadores - mas, dessa vez, por conta da greve dos auditores fiscais no Brasil.

Os caminhões transportadores estão enfrentando filas e o processo de liberação de cargas na fronteira entre os dois países na Ruta 14 (estrada que leva de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, às cidades de Entre Rios e Buenos Aires, na Argentina) estão levando mais de 48 horas - quando esse procedimento não leva mais de 6 horas.

No entanto, apesar da dor de cabeça que muitos enfrentam, existe pelo menos um setor nacional que pode lucrar com a briga no país vizinho: a indústria da cadeia de trigo, com a liberação das exportações anunciada pelo governo argentino, a partir da próxima segunda-feira.

Fila na fronteira
A greve dos auditores fiscais no Brasil já alcança seu 15º dia. Se por um lado acabaram as manifestações na Ruta 14, fator que ’’segurava’’ os caminhões em um ou outro país por conta do receio de ter prejuízos com perdas das cargas, os transportadores agora não conseguem passar pela fronteira devido à paralisação dos fiscais. Apenas 30% do efetivo da Receita Federal está funcionando.

"Geralmente, o processo de liberação de cargas leva 6 horas, entre entregar a documentação e passar pelo sistema de parametrização da Receita. Com a greve dos fiscais, a expectativa mais otimista é de 48 horas, quando a classificação é ’’canal verde’’ no sistema", diz Ademir Pozzani, vice-presidente de relações internacionais da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC & Logística). A classificação canal verde, no sistema da Receita, é o mais breve na liberação da passagem pela fronteira.

Além dos exportadores de chocolates, muito consumidos na Argentina pois o país não produz cacau, e leite em pó, os exportadores de pneus, automóveis, eletrodomésticos e do segmento automotivo também estão sendo prejudicados com o rompimento do comércio, informa Pozzani.
Do lado importador, se notam prejuízos para quem precisa comprar óleo de canola, rações e produtos químicos.

"A rota 14 foi aberta no final da tarde desta terça-feira, no entanto, o giro de caminhões continua parado entre os países", diz.

No porto de Santos, em São Paulo, a greve dos fiscais da Receita ainda não prejudicou os embarques de grãos que saem pelo terminal da Caramuru (terminal 39), informou ontem uma fonte local. "As exportações estão ocorrendo normalmente, já que exportação é rentável", disse. Ainda segundo a fonte, os prejudicados são os importadores.

Trigo
Os importadores de trigo tiveram boa notícia. Mas agora é esperar para ver, já que o legado que a greve dos agricultores argentinos deixa para a cadeia de trigo no Brasil é a comprovação do descrédito da indústria brasileira em relação ao governo vizinho. Mesmo com o anúncio do ministro de Economia da Argentina, Martín Lousteau, de que irá liberar as exportações da commodity a partir da próxima segunda-feira os moinhos brasileiros compraram essa semana três navios de trigo dos Estados Unidos e mais dois do Canadá. A principal razão para a indústria brasileira preferir arcar com a possibilidade do prejuízo é a desconfiança em relação ao cumprimento da medida anunciada pelo governo Kirchner e as relações políticas que o mesmo estabelece com a Venezuela e a Bolívia que pode favorecer aos dois países.

Detalhe: importar trigo dos Estados Unidos ou Canadá hoje significa um aumento no custo da indústria superior a US$ 100 por tonelada quando comparado à aquisição do produto argentino.

"Na minha opinião a Argentina não vai direcionar para cá esse trigo devido a um intercâmbio de interesses. As relações políticas que tem com a Venezuela, em razão do bônus do tesouro argentino que estão com eles, e a questão do gás da Bolívia devem fazer esses dois países serem contemplados com uma grande quantidade", avalia Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico.

Para o setor de forma geral não há nenhuma novidade no que foi anunciado ontem pelo governo argentino. Segundo, Luiz Martins, presidente do moinho Anaconda e presidente do Sindustrigo, a alteração da alíquota cobrada para a exportação da farinha de 10% para 18% já havia sido publicada há três semanas pela Argentina e a liberação da exportação de 1 tonelada de trigo para o Brasil que era para ter ocorrido no dia 1 de março já foi prorrogada três vezes. "Já adiaram três vezes (a liberação), não tenho nenhuma confiança que esse trigo sairá de lá. Há 80 navios para sair da Argentina, nem teria como transportar em duas semanas", diz.

Ainda de acordo com Martins a sinalização da Argentina de que permitira a exportação fez com que os moinhos adiassem em 50 dias suas compras, mas com os baixos estoques isso deve se reverter rapidamente. A indústria que obteve do governo a autorização para importar 1 milhão de toneladas de trigo sem Tarifa Externa Comum (TEC) até 30 de julho, mas até agora só contratou 250 mil toneladas, deve comprar o restante permitido logo nas primeiras semanas de abril.
 
A estimativa da indústria brasileira é que tenha disponível na Argentina 2 milhões de toneladas de trigo até novembro, quando será colhida a próxima safra.

Fonte: DCI - 03 ABR 08
Curta, comente e compartilhe!
Pin It
0
0
0
s2sdefault
powered by social2s

topo oms2

Deixe sua opinião! Comente!