Terça, 04 Fevereiro 2025

Segundos depois da explosão, cerca de 50 funcionários da TAM Express só pensaram em uma coisa: resgatar os colegas que estavam no prédio em chamas. Os gritos eram de colegas de trabalho. Ubiratan, Michele, Valdinei, Rivaldo, todos conhecidos por seus nomes de guerra. Duas pessoas pularam do segundo andar, em desespero. Outros, em pânico, imploravam para sair dali. Uma porta dos fundos foi arrombada pelo grupo de resgate improvisado. Muitos dos que estavam no térreo escaparam naquele momento.

“Havia muita gritaria e correria, e não podíamos fazer muita coisa”, relata Luiz Ribeiro, auxiliar de cargas da TAM Express. Um dos gritos veio de Bira, que parecia estar preso em algum lugar dentro do prédio.

Roberto Tressorras foi um dos que avistaram o colega debaixo de uma parede que tinha caído. “Ele falou comigo debaixo dos escombros. Juntamos umas 50 pessoas, tiramos primeiro um senhor que estava em óbito e depois o Bira”, afirma. Nesse momento, os bombeiros tinham acabado de chegar. “Não dava para pensar em nada, só salvar nossos colegas. Mas o fogo estava muito forte, não tínhamos extintores e não deu para salvar mais ninguém”, lembra Tressorras, que tarde da noite ainda permanecia com os colegas na Rua Barão de Suruí, na parte de trás do prédio.

“Tiramos o Bira e vimos que ele estava com muitas escoriações, sem força, sangrava muito. Foi terrível”, acrescenta Ribeiro. Ao telefone, o auxiliar de cargas afirmava, a conhecidos, que estava bem, apenas cheirando a querosene e a fumaça do incêndio. Ribeiro estava indo jantar, quando ouviu a explosão. “Parecia quando alguém joga muito álcool de uma vez numa churrasqueira acesa.”

Enquanto os bombeiros combatiam o incêndio, os funcionários recebiam informações por rádios de comunicação interna. Uma delas: um grupo ainda se encontrava preso dentro de um elevador, pedindo socorro. Mais tarde, eles ainda esperavam para saber se aquelas pessoas foram resgatadas. As informações eram confusas.

ARREMETIDA

Entre os relatos dramáticos, alguns davam pistas sobre a anatomia da tragédia. Um funcionário de manutenção da TAM diz ter visto o exato momento em que o avião acidentado pousava na pista e o piloto, provavelmente temendo não ser capaz de parar no espaço disponível, tentou arremeter. “Vi quando ele tentou desarmar o reverso e arremeter”, disse o funcionário, que pediu para não ser identificado, referindo-se ao dispositivo da turbina que inverte a direção do jato. Sem conseguir ganhar altitude, a aeronave atingiu o prédio da TAM Express, relatou o funcionário.

Ele estimou que o Airbus 320 estava numa velocidade superior a 150 quilômetros por hora - alta demais para uma pista que, em sua avaliação, estava em condições precárias. “A semana inteira os pilotos reclamaram da pista escorregadia, disseram que um acidente grave seria inevitável. O acidente da Pantanal foi um aviso”.

As condições da pista da Avenida Washington Luiz indicavam que o choque com o prédio foi praticamente direto. Os postes e a mureta de concreto que separam os dois sentidos da pista dos automóveis estavam intactos. Apesar dos relatos de motoristas que diziam ter escapado por pouco da aeronave, bombeiros e funcionários da TAM Express acreditavam que o avião atingiu basicamente o prédio, sem se arrastar pelo solo. Naquele ponto, a pista de Congonhas está muitos metros acima do leito dos carros.

Para evitar aglomeração e facilitar o trabalho de resgate, a Polícia Militar evacuou toda a área do acidente e isolou a área do aeroporto até o viaduto sobre a Avenida dos Bandeirantes. A avenida foi interditada logo após o acidente, mas isso não impediu a chegada de centenas de curiosos ao local. Enquanto equipes de resgate, médicos, legistas e bombeiros trabalhavam, policiais militares se encarregavam de conter com cordões de isolamento os populares que chegavam a pé.


FRASES

Robson Caetano da Silva,

Motorista da TAM Express

“Ouvi um estrondo e uma das paredes começou a desabar. Vi gente em pânico, se jogando no chão, correndo para um lado e para o outro”

“Tinha muita gente lá dentro. As chamas já estavam quase atingindo o 3.º andar quando vi duas pessoas se jogarem
lá de cima. Foi terrível”

Paulo Zani
Funcionário da TAM que escapou do prédio, em relato a seu sobrinho

“Foi tudo muito rápido. O prédio encheu de fumaça. Tinha muita gente lá dentro. Precisei quebrar a janela para escapar”

Luiz Ribeiro
Auxiliar de cargas da TAM Express

“Havia muita gritaria e correria, e não podíamos fazer muita coisa (...) Parecia quando alguém joga muito álcool de uma vez numa churrasqueira acesa”

Fonte: O Estado de S.Paulo - 18 JUL 07

Curta, comente e compartilhe!
Pin It
0
0
0
s2sdefault
powered by social2s

topo oms2

Deixe sua opinião! Comente!