Foram alguns segundos. O piloto do Airbus A-320 recebeu da Torre do Controle de Aproximação do Aeroporto de Congonhas a informação de que a pista estava escorregadia e molhada. Às 18h46, o avião da TAM com 176 pessoas a bordo tocou o solo pela primeira vez. Tudo parecia bem, e a torre disparou um aviso ao avião seguinte, que aguardava a vez para pousar. Mas, logo depois, os controladores de vôo ouviram gritos da cabine: “Vira! Vira! Vira!” Era um sinal de que algo estava errado.
O Airbus não conseguiu pousar na pista principal e tentou arremeter. Ele atravessou a Avenida Washington Luís, bateu entre o primeiro e o segundo andar de um prédio e explodiu. O incêndio consumiu o Airbus, o edifício - um depósito de cargas da TAM - e um posto de gasolina vizinho. Todos os que estavam no avião morreram. Até a 1 h de hoje, 32 corpos haviam sido resgatados - 25 fora do avião e 7 na cauda do Airbus. Os bombeiros socorreram 14 feridos no solo.
Cerca de 1h30 antes do maior acidente da história da aviação brasileira, a Torre de Congonhas havia pedido à Infraero que medisse a lâmina d’água na pista. Recebeu a informação de que ela “estava operacional”, o que a manteve aberta. O vôo JJ 3054 havia saído de Porto Alegre às 17h16. O Airbus aproximou-se do aeroporto sobrevoando o bairro do Jabaquara. Os controladores de vôo ouviram as últimas palavras da tripulação na cabine do Airbus e as relataram ao comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito.
O maior acidente da história da aviação brasileira foi uma tragédia anunciada, dizem especialistas em segurança de vôo. Eles apontam como possível vilão a falta de drenagem na pista do aeroporto - anteontem, dois aviões tiveram problemas na pista. Para a Aeronáutica, uma aquaplanagem do avião é uma das causas possíveis do acidente - a outra seria um problema nos freios do Airbus. A Infraero, responsável pelo aeroporto, informou não descartar um erro do piloto ao tocar a pista.
Não há marca de pneu na pista ou na grama ao redor, o que indica que o piloto não freou. Ele tentou arremeter, mas a força que ele conseguiu extrair do motor foi insuficiente para decolar. No momento do choque, o Airbus estava aproximadamente a 180 km/h - velocidade típica de quem tenta arremeter.
Os Bombeiros mobilizaram 150 homens e 50 viaturas e 2 helicópteros para controlar o fogo. A energia elétrica na região foi cortada. A área do aeroporto foi isolada pela polícia. A Defesa Civil interditou 27 imóveis. O aeroporto fechou. Mesmo assim, a TAM continuava a vender passagens para vôos que sairiam às 7 horas de hoje de Congonhas. A Polícia Civil e a Aeronáutica abriram investigações sobre o caso. Peritos iam verificar se havia material hospitalar radioativo no prédio atingido pelo avião.
O acidente ocorreu 17 dias depois de a pista principal do aeroporto ter sido reaberta - ela ficou fechada 45 dias para reforma - mesmo sem as ranhuras transversais, o chamado grooving, que só seria feito no fim do mês. O grooving é um dos itens que compõem a drenagem da pista e só pode ser feito um mês após o concreto ficar pronto.
O acidente com o Airbus foi o terceiro em Congonhas em 48 horas. Anteontem, também chovia em São Paulo. Às 12h43, um avião ATR-42, da Pantanal derrapou na pista principal e foi parar na grama. Outro incidente ocorreu às 17h40. Um Fokker-100 da TAM tentou pousar e quase saiu da pista.
A LISTA
Os nomes confirmados a bordo do vôo JJ 3054 até o
início da madrugada são:
Akio iwasaki
Andrea Rota Sieczkowski
Andrei François Mello
Carlos Gilberto Zanotto
Cassio Vieira Servulo da Cunha
Clove Mendonça Junior
Ricardo Kiey Santos (funcionário da TAM)
Marcel Cassal Vicentim (funcionário da TAM)
Michelle Silveira Unterberger (funcionário da TAM)
Vinicius Costa Coelho (funcionário da TAM)
Fabiola Ko Freitag (funcionário da TAM)
A empresa informou que está com seu Programa de Assistência às Vítimas e Familiares ativado desde os primeiros momentos após o acidente e disponibilizou um número de chamadas gratuitas voltado para o atendimento aos familiares dos passageiros e tripulantes deste vôo: 0800-117900.
Fonte: O Estado de S.Paulo - 18 JUL 07