O acordo com Petrobras e Grupo Ultra para a compra do Ipiranga está longe de significar uma desaceleração ao apetite de crescimento da Braskem no País. Pelo contrário. A empresa mantém projetos de crescimento nas Regiões Sul e Nordeste e estuda ingressar também no pólo do Sudeste, via participação no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Ontem, o presidente da companhia, José Carlos Grubisich, destacou que detalhes do Comperj ainda a ser definidos podem atrair o investimento da companhia em mais este ativo. “Claro que se o complexo apresentar características atrativas, a Braskem terá interesse em participar”, ressaltou. Para ele, os principais pontos a serem definidos são a formulação e o preço da matéria-prima a ser oferecida, o valor do investimento total e a estrutura societária do complexo.
Por enquanto, apenas Ultra e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) são dados como certos no negócio, em associação com a Petrobras, responsável pelo desenvolvimento da tecnologia que vai transformar petróleo pesado em matéria-prima.
Grubisich analisa que a reestruturação que está em andamento na petroquímica brasileira é concentrada principalmente em ativos já existentes, por isso o Comperj deve ser visto sobre outra ótica. “É preciso analisar essa operação no horizonte entre 2015 e 2020, afinal ela virá a impulsionar a competitividade da petroquímica brasileira”, destacou.
A Braskem também dá andamento às obras de construção da Petroquímica Paulínia, localizada no interior paulista e fruto de outra parceria com a Petrobras.
Concentração
A participação da Braskem também na formação do pólo do Sudeste, no entanto, não é vista com bons olhos pela Suzano Petroquímica, empresa que se candidata a ser protagonista da consolidação na região. “Se houver a presença de um único grupo em todos os pólos, haverá excesso de concentração e prejudicará a concorrência do setor”, analisou, na quarta-feira, o co-presidente da Suzano, José Ricardo Roriz.
Ele destacou que ainda não foram iniciadas conversações com a Petrobras a respeito do pólo do Sudeste, mas deixou claro que a consolidação deverá ser fundamentada nos ativos controlados pela própria Suzano e pela Unipar, tendo a Petrobras como parceria fundamental no processo.
O cronograma do Comperj está mantido, com previsão de entrada em operação em 2012. As obras de terraplenagem, porém, não começaram. A licitação para a empresa de engenharia responsável pela unidade deverá sair ainda neste semestre. Paralelamente, serão feitas as licitações para companhias encarregadas dos estudos de impacto ambiental. A única já concluída foi ganha pela Concremat, que fará o mais importante estudo ambiental. Ao todo serão doze as licenças.
Expansão
Além de permanecer atenta aos planos do Comperj, a Braskem mantém seu projeto de expansão no Brasil e no exterior. No Nordeste, a principal aposta da empresa está em uma planta de polipropileno, a ser localizada em Camaçari (BA), com capacidade anual de 300 mil toneladas e início de operações em 2011.
No Sul do País, os investimentos poderão alcançar os R$ 700 milhões após o negócio que envolveu os ativos da Ipiranga Petroquímica e da Copesul. “Queremos aumentar ao máximo possível nossa capacidade de produção naquela região”, disse Grubisich.
Por isso, a empresa fechou, no mês passado, um acordo com a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) para garantir o fornecimento de 70 mil toneladas de propeno por ano. Esse número, completa Grubisich, poderia chegar a 200 mil toneladas anuais no futuro.
Além disso, a Braskem analisa negociar com a Petrobras a participação da estatal no controle da Petroquímica Triunfo.
“Ambos temos interesse no negócio e a própria Petrobras já disse que não haveria por que a unidade estar de fora da consolidação”, disse Grubisich.
Mercado externo
No exterior, a Braskem firmou acordo com a venezuelana Pequiven para constituir duas joint ventures que resultarão na construção do Complexo Petroquímico de Jose. O projeto contará com a construção de um “cracker” de etano a partir de gás natural, com capacidade de 1,3 milhão de toneladas anuais de eteno e 1,1 milhão de toneladas anuais de polietileno, além de outra planta, de polipropileno, com capacidade de 450 mil toneladas.
Para efetivar o projeto como um dos grandes pólos petroquímicos das Américas, a Braskem já está em contato com transformadores plásticos que poderiam se instalar no complexo. Entre eles, revela Grubisich, estariam a Tigre e a Fitesa, além de grupos latino-americanos.
Outro país que interessa à Braskem é a Bolívia. Grubisich disse que a companhia brasileira aguarda uma definição no fornecimento de gás da YPFB para a Petrobras para retomar os estudos sobre o projeto. Ele também revelou que, ainda neste mês, a Braskem deverá participar de uma reunião no país vizinho.
Preços mais altos
A Braskem anunciou ontem que haverá um aumento de 5% a 10% no preço das resinas, a ser aplicado ainda neste mês.
Segundo Grubisich, o aumento é “necessário” em face às recentes oscilações no preço da nafta e das resinas vendidas no exterior.
Segundo dados da Tendências Consultoria, o preço da nafta saltou de US$ 525 por tonelada em dezembro passado para US$ 645 em abril passado. “Esse aumento foi ocasionado por paralisações que ocorreram em linhas de produção na Europa”, explica a analista Fabiana D’Atri.