A saída anunciada pela Arcelor Brasil da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), com o fechamento de seu capital após ser assumida pela anglo-indiana Mittal Steel, em meados do ano passado, serve de alerta ao investidor que ainda detém os papéis da empresa.
Analistas afirmam que as elevadas despesas geradas para fechar o capital (cerca de R$ 10 bilhões), aliadas aos altos custos operacionais, depreciaram os papéis da companhia ao longo deste ano.
As ações da Arcelor Brasil no primeiro trimestre fecharam na penúltima colocação, levando-se em conta o desempenho das cinco maiores siderúrgicas do país. Segundo a Bovespa, os papéis da companhia apresentaram valorização de 14,8%, atrás somente das ações ordinárias da Gerdau, que, no trimestre, avançaram 5%.
À frente da empresa estão Acesita (também controlada pelo grupo indiano), com 42,1% de ágio; Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas), com alta de 26,6%; e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), com expansão de 37,8% no primeiro trimestre.
No próximo mês, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determinou que a Arcelor assuma os papéis dos minoritários, a um preço médio de R$ 49,30 a ação. Atualmente, os valores dos papéis estão na casa de R$ 49,50.
“O grande problema de se ter ações de uma empresa de capital fechado é que você se torna um refém dela. A partir do segundo semestre, a Arcelor Brasil não precisará mais prestar contas à CVM, muito menos aos seus investidores. Além do mais, quando o investidor resolver vender as ações, será obrigado a comercializá-las com a própria empresa, pelo preço que eles oferecerem”, explica o analista da corretora H.H Picchioni, Paulo Amantéia.
Investimento pouco rentável
Para o consultor de investimentos da Lopes filho & Associados, Carlos Manoel Pereira de Sousa, comprar ações da Arcelor Brasil nessa altura do campeonato não é um investimento rentável, justamente pelo fechamento do capital.
O analista indica a Gerdau, por ter presença forte na construção civil – atividade em expansão no país – e ser diversificada geograficamente. Amantéia aconselha também a aquisição de papéis da CSN, sobretudo pela provável abertura de capital da mina Casa de Pedra, ativo da siderúrgica fluminense.
Fechar capital não era uma medida prevista pela Arcelor Brasil. A empresa sairá da Bovespa por determinação da CVM, que entendeu a negociação com a Mittal como venda, e não fusão, conforme argumentaram os diretores da siderúrgica. Com isso, a Arcelor criou para si despesa adicional de aproximadamente R$ 10 bilhões.
O resultado foi certeiro: a ordem nos corredores de suas controladas no Brasil – Belgo Siderurgia, Companhia Siderúrgica de Tubarão e Vega do Sul – é enxugar os custos. Um Programa de Demissão Voluntária (PDV) foi implantado há dois meses nas unidades que a Belgo possui em Juiz de Fora e João Monlevade.
Baixas de pessoal
Cerca de 70 empregados foram cortados em Juiz de Fora, informou o vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do município, João César da Silva. “Eles falam que precisam cortar custos, mas nos adiantaram que vão instalar um terceiro alto-forno no médio prazo”, disse o sindicalista.
A assessoria de comunicação da Arcelor Brasil descarta a hipótese de um terceiro alto-forno. Dois fornos foram inaugurados em Juiz de Fora em fevereiro deste ano. Em Monlevade, outros 47 funcionários foram afastados com o PDV.
Mas a meta era eliminar 118 empregados, o que significa que 71 trabalhadores deverão ser dispensados sem os benefícios do programa, informou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de João Monlevade, José Quirino dos Santos.
Fonte: O Tempo - 02 MAI 07