Há quatro anos, a consultoria econômica LCA se prepara para uma possível saída de seu sócio-diretor Luciano Coutinho, de 59 anos, para o governo. Isso quer dizer que não foi surpresa? ’’Sim e não’’, disse Cristian Andrei, diretor-geral da LCA, que foi aluno de mestrado de Coutinho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) na década de 1970. ’’Nós nos preparamos para a possibilidade de ele assumir esse cargo, mas não sabíamos que seria agora. Acabaram de ficar prontos 2 mil folders da LCA com o nome dele.’’
Segundo Andrei, somente ontem à noite houve alguma sinalização de que isso poderia acontecer. ’’Havia alguns boatos, mas nenhuma comunicação’’, explicou. Criada em 1995, a LCA conta com 50 consultores e cerca de 100 clientes, que incluem a Unilever, a InBev e a CPFL. A principal área de atuação é a inteligência de mercado, em que analisa questões como preço e retorno de investimento em marketing. Coutinho não participa dessa área.
’’ESCOLHA NATURAL’’
Coutinho é defensor da desoneração de investimentos, com redução da carga tributária no País. Professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, Coutinho já deu aulas para o senador Aloizio Mercadante e foi conselheiro do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci nos primeiros meses do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Desenvolvimentista assumido, é formado em Economia pela Universidade de São Paulo, com doutorado pela Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Entre 1985 e 1988, foi secretário-geral do Ministério da Ciência e Tecnologia, durante o governo José Sarney. ’’Toda a sua trajetória acadêmica esteve ligada à política industrial, ao lado real da economia, que é a esfera de atuação do BNDES’’, disse Andrei, acrescentando que, nos últimos quatro anos, a possibilidade de ida de Coutinho para o governo foi sempre a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
’’Foi uma escolha natural, pela qualificação’’, disse o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp. ’’Ele tem uma formação tecnológica, industrial e de infra-estrutura, além de uma experiência grande no mundo empresarial.’’ Coutinho chegou à Unicamp em 1974, vindo de Cornell, e foi o primeiro coordenador do curso de pós-graduação em Economia da universidade, tendo trabalhado na sua estruturação. ’’Temos uma relação acadêmica muito próxima’’, destacou Belluzzo. ’’Escrevemos muita coisa juntos.’’
INOVAÇÃO
Para Belluzzo, o principal desafio de Coutinho, à frente do BNDES, será ajudar o País a crescer ao menos 5% ao ano, ’’se a política macroeconômica ajudar’’. Na visão do economista, não está ajudando. ’’Falta alinhar os preços básicos à tendência internacional’’, disse. ’’Os juros e o câmbio estão fora do lugar.’’ Belluzzo acredita que Coutinho levará inovação às formas de financiamento do BNDES, e ajudará a implementar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). ’’Ele tem muito treino na estruturação de financiamentos.’’
Na época em assessorou o ex-ministro Antônio Palocci, chegou a recusar um convite para assumir o Ministério do Planejamento na equipe formada pelo governo petista. Hoje, o economista não é filiado a nenhum partido político, mas já esteve nos quadros do PSB.
CONCORRÊNCIA
Como sócio da LCA, Coutinho chegou a trabalhar numa proposta de fusão entre a Varig e a TAM, contratado pelas duas empresas, mas o projeto não chegou a sair do papel. A LCA tem atualmente seis sócios, incluindo Coutinho, e deve continuar com cinco. ’’Não vamos substituí-lo.’’ Além de política industrial, o trabalho acadêmico de Coutinho trata de economia internacional.
Ele esteve à frente de estudos importantes sobre as cadeias industriais brasileiras, publicados em 1994 e 2002. Como consultor na LCA, sua especialidade é a defesa da concorrência. ’’Foram poucas as ocasiões em que vi alguém tão bem preparado ser indicado para exercer um cargo público’’, elogiou o colega Luiz Gonzaga Belluzzo.
Fonte: O Estado de S.Paulo - 19 ABR 07