A China e Índia se unem para exigir, dos países ricos, que a Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) respeite suas necessidades de preservar seus pequenos agricultores e garantir a segurança alimentar. Com quase 2,5 bilhões de pessoas juntos, os dois países emitiram um comunicado, ontem, deixando claro que não aceitarão abrir seus mercados agrícolas e culpam os governos dos Estados Unidos e União Européia (UE) por um eventual fracasso da OMC. A Índia quer 20% de seus produtos agrícolas protegidos e a China não aceita nova abertura de seu mercado pelos próximos dez anos.
O comunicado, assinado pelos ministros do Comércio da Índia, Kamal Nath, e da China, Bo Xilai, é também um sinal para o Brasil de que não será fácil convencer os dois gigantes asiáticos a adotarem uma posição de flexibilidade em relação à abertura de seus mercados agrícolas. Brasil, Índia e China são considerados como os pilares do G-20 (grupo de países emergentes). O bloco, porém, não consegue chegar a um acordo sobre o grau de abertura dos países em desenvolvimento.
Se Brasil, Argentina e outros querem uma ampla liberalização para exportarem, China e Índia rejeitam novos cortes de tarifas em seus mercados.
Como coordenador do G-20, o Itamaraty sabe que precisará atender em parte as demandas de Pequim e de Nova Délhi para que o bloco continue unido. Mas ao mesmo tempo sabe que sem uma flexibilização desses países, dificilmente a Rodada conseguirá ser concluída. Esses mercados ainda são os mais promissores como consumidores de produtos agrícolas, mas o Brasil espera obter um acesso por meio de acordos preferenciais. Mas os ataques são mesmo contra os países ricos, culpados no comunicado como responsáveis pela falta de avanços nas negociações.