O Estado de Goiás está atraindo novas usinas para a produção de etanol. Atualmente são cerca de 12 projetos em andamento. Os empresários são atraídos pelas terras boas, planas, baratas e pelas alternativas de escoamento da produção.
O maior grupo produtor de açúcar e álcool do País, a Cosan, decidiu construir três usinas em Goiás, para expandir fora das terras paulistanas.
Além da Cosan, estão instalando unidades em Jataí a usina alagoana Cansanção do Sinimbu e a Elcana, empresa criada para realizar investimentos da Aloés Indústria e Comércio no segmento sucroalcooleiro. Atualmente, a carioca Aloés atua na fabricação de fraldas descartáveis. Uma quarta usina, que ainda não obteve a concessão de benefícios fiscais do governo estadual, deve ser construída pelo ex-ministro da Agricultura Antonio Cabrera, em uma fazenda de sua família.
A primeira usina da Cosan já tem lugar definido, o município de Jataí. As outras duas também deverão se situar na região de Rio Verde.
Um ponto forte de Goiás está na logística de escoamento do etanol. O estado vai receber o alcoolduto que a Petrobras construirá até o Porto de São Sebastião (SP), que vai viabilizar a exportação do produto goiano a baixo custo.
Além disso, uma alternativa considerada pela Cosan é o escoamento por meio hidroviário. Pelo porto fluvial goiano de São Simão é possível acessar a Hidrovia Tietê-Paraná. Atualmente, a Louis Dreyfus Commodities e a Caramuru Alimentos já utilizam o Porto de São Simão.
“O alcoolduto virá até o município de Senador Canedo, que é longe de Jataí; porém a Cosan afirmou que há grande probabilidade de o duto ser estendido devido ao grande número de usinas sendo construídas por aqui”, afirma o presidente do Sindicato Rural de Jataí, Mozart Carvalho de Assis.
Há duas semanas, representantes da Cosan reuniram-se com o prefeito, os vereadores e entidades de classe de Jataí para esclarecer detalhes do projeto. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Cosan afirmou que não vai comentar a notícia.
Segundo o prefeito de Jataí, Fernando Peres (PR), a Cosan investirá R$ 450 milhões na construção da usina no município. A capacidade industrial chegará a 2,7 milhões de toneladas de cana por safra, o que exigirá uma área plantada de 45 mil hectares de cana. “Temos mais três projetos de usinas em Jataí e consideramos que seja o número suficiente”, afirma Peres.
A preocupação é que a cana não tome espaço das culturas de grãos, diminuindo a atratividade para empresas de aves e suínos como a Perdigão, que consomem milho, soja e sorgo nas rações.
Disputa com os grãos
Amanhã, o prefeito Peres se encontra com o governador de Goiás, Alcides Rodrigues Filho (PP), e entregará um ofício em nome das entidades de Jataí solicitando que o estado não conceda novos incentivos para a instalação de usinas no município, com o objetivo de resguardar a produção de grãos. Os benefícios oferecidos pelo governo goiano não são pequenos.
Segundo Mozart Assis, só a usina da Cosan em Jataí representará uma renúncia de R$ 1,2 bilhão por parte do governo estadual.
O presidente do Sindicato Rural explica que Jataí possui 300 mil hectares de pastagens, a maior parte degradada, que poderiam receber cana sem ocupar os 200 mil hectares de agricultura do município.
“Mas as usinas preferem e conseguem utilizar terras que cultivam milho e soja há trinta anos, onde certamente a produtividade da cana será bem melhor e exigirá menos investimentos”, explica ele.
O município vizinho de Rio Verde, sede de um dos maiores complexos agroindustriais da Perdigão, tomou uma atitude drástica: proibiu por lei que a cana ocupe mais de 10% da área do município.
A medida não é cogitada por Jataí, mas o poder público e a iniciativa privada estão estudando um zoneamento para incentivar a ocupação das pastagens degradadas.
A busca das usinas pelas terras de produção agrícola está relacionada não apenas às condições de tratamento do solo, mas também à declividade, porque dela depende a mecanização da lavoura. “As usinas preferem os chapadões, que são mais planos”, explica Assis. É o caso da própria Cosan, que já definiu a instalação de sua unidade industrial de Jataí na Fazenda Rio Paraíso, próxima ao rio de mesmo nome, que divide o município do vizinho Rio Verde.
Segundo Assis, a segunda unidade do grupo em Goiás deverá ficar em Montividiu, que também se localiza entre Jataí e Rio Verde, a menos de 50 quilômetros da primeira usina.
“A Cosan afirmou que quer construir as três bem próximas para obter ganhos logísticos”, explica o presidente do Sindicato Rural de Jataí.
O prefeito Fernando Peres afirma que é parte da sua política estimular a instalação das usinas próximo das divisas do município, para que a cana venha também das cidades vizinhas. “No caso da Cosan, cerca de 20 mil hectares de cana serão plantados em Rio Verde”, prevê Peres.
Início do plantio
Os representantes da Cosan garantiram às autoridades de Jataí que devem conseguir nos próximos dias a outorga para a utilização da água do Rio Paraíso para a irrigação do viveiro de cana. Já a Sinimbu está entrando este ano no segundo ano da produção de mudas, com o plantio de 800 hectares, e começará o plantio comercial no ano que vem.