SÃO PAULO – Quase 50% dos ocupados no país desempenham mais de uma atividade no mercado de trabalho ou fazem hora extra para compensar a queda da renda.
Pressionados pelo aumento dos gastos, mais de 32 milhões de trabalhadores cumprem jornada superior às 44 horas semanais previstas na Constituição, enquanto outros 4,2 milhões têm duas ou mais ocupações. Entre os aposentados e pensionistas, 6,6 milhões continuam na ativa.
Os números são de um levantamento feito pelo professor Márcio Pochmann, do Centro de Estudos de Economia Sindical e do Trabalho, da Unicamp, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE.
Entre 1999 e 2005 (último dado disponível), a quantidade de brasileiros que exercem o chamado “sobretrabalho” passou de 37,7 milhões para 42,8 milhões – um salto de 13,5%, equivalente ao acréscimo de 5,1 milhões de pessoas. Em 2005, existiam 87,1 milhões de ocupados em todo o país.
Pressão
A pressão sobre o mercado de trabalho é crescente. Além do avanço do desemprego, que atingia 8,9 milhões de brasileiros em 2005, ante 7,6 milhões em 1999, também cresceu o número de pessoas que estavam empregadas, mas procuravam outra ocupação.
Nesse segmento, o total passou de 5,6 milhões para 8,8 milhões, o que representa aumento de 57% entre os dois períodos.
“Os números refletem uma mudança na estrutura de ocupação brasileira”, afirma Pochmann. “O crescimento anêmico da economia gera empregos de baixa remuneração, o que leva as pessoas a trabalharem mais para conseguir uma renda satisfatória.”
O economista explica que, entre 1999 e 2005, o país criou 20,9 milhões de ocupações com remuneração inferior a dois salários mínimos (o equivalente a R$ 760 hoje). Em contrapartida, fechou 5,5 milhões de postos que pagavam mais. O saldo foi a abertura de 15,4 milhões de vagas de baixa remuneração.
Desde 1996, quando a remuneração do trabalho no país apresentou o nível mais alto do Plano Real, o rendimento médio dos ocupados teve queda de 15%, passando de R$ 948, naquele ano, para R$ 805 em 2005, já descontada a inflação.
Não é à toa que a participação dos rendimentos do trabalho no Produto Interno Bruto (PIB) tem caído. Essa participação, que era de 50% da renda nacional em 1980, encolheu para 36% em 2004.
Atrás do prejuízo
A secretária Aparecida Falopa de Souza, 48, sentiu isso no bolso. Depois de trabalhar 26 anos num grande escritório de advocacia em São Paulo, ela foi dispensada em outubro do ano passado, cinco meses após ter se aposentado.
Hoje, cumpre jornada que supera 60 horas semanais e, mesmo assim, não conseguiu igualar o salário. Além do emprego de secretária numa empresa de relações públicas, onde ganha R$ 1.500 por mês, Aparecida trabalha, à noite, na cantina de uma escola municipal, da qual tem a concessão.
Seu salário principal, somado ao rendimento da cantina e aos R$ 1.300 que recebe de aposentadoria, chega a R$ 3.300. No escritório de advocacia, a secretária ganhava R$ 3.500. (Agência Estado)
Aposentado continua no mercado
SÃO PAULO – Um em cada três aposentados e pensionistas continua ativo no mercado de trabalho. Segundo levantamento feito pelo professor Márcio Pochmann, da Unicamp, dos cerca de 20 milhões de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do setor público, 6,6 milhões estavam trabalhando em 2005.
O metalúrgico Nilton Sebastião Rissi, 57, se aposentou em 1994, mas continuou trabalhando como ferramenteiro na fábrica de caminhões da Ford no Ipiranga, zona Sul da capital paulista. No ano seguinte, foi demitido, mas não desistiu.
Desde 1996, trabalha como ferramenteiro numa microempresa de autopeças. Casado e pai de três filhos, recebe R$ 2.000 por mês, além da aposentadoria de R$ 1.900. “A aposentadoria mal daria para pagar a faculdade dos meus filhos, que custa R$ 500 cada.”
O número de brasileiros na mesma situação de Rissi cresceu de 5,8 milhões, em 1999, para 6,6 milhões em 2005. Isso representa um aumento de 13,8% entre os dois períodos.
Para o consultor José Cechin, ex-ministro da Previdência Social no governo Fernando Henrique Cardoso, os números mostram que a aposentadoria não abre vaga no mercado de trabalho. Segundo ele, a aposentadoria passou a ser uma renda adicional. Hoje, o teto para aposentadoria do INSS é de R$ 2.800.
Fonte: O Tempo - 09 ABR 07