A repercussão da notícia de que os Estados Unidos querem incluir o Brasil entre os países desenvolvidos nas negociações agrícolas na Rodada de Doha foi negativa dentro do governo brasileiro. “É normal, durante as negociações, que um país tente pressionar o outro para ganhar mais vantagem, mas é claro que o Brasil não vai aceitar e tem resistido a esse tipo de iniciativa”, afirmam fontes no Ministério das Relações Exteriores. O Ministério da Agricultura preferiu não se pronunciar sobre o caso, mas técnicos explicaram que a mudança seria muito ruim para o País pois implicaria em redução dos prazo para liberação do comércio aos demais países.
De acordo com notícias publicadas ontem pela Agência Estado, os EUA querem que o Brasil seja considerado como um país desenvolvido em termos agrícolas e que não tenha os mesmos benefícios de países em desenvolvimento nas negociações da OMC. O recado teria sido dado nesta semana pela delegação americana durante as negociações que manteve com Brasil, Índia e Europa em Paris.
A reunião entre os membros do G-4 terminou ontem. O objetivo foi tentar encontrar um consenso sobre como fazer avançar o processo, praticamente paralisado desde julho de 2006, e qual deverá ser a agenda das negociações até o final do ano, prazo considerado como mais realista para a conclusão das negociações.
Para muitos países em desenvolvimento, a estratégia é a de dividir o bloco das economias emergentes para evitar que esses países tenham muito poder na negociação. O que os americanos alegam é que a competitividade brasileira e de outros poucos países emergentes não pode ser comparada ao desempenho de economias em desenvolvimento na África e mesmo na América Latina.
A insistência do governo americano é resultado do lobby dos grandes produtores rurais americanos. Na prática, a posição dos produtores americanos significaria que o Brasil teria de fazer os mesmos níveis de concessões que países ricos e se submeter às mesmas condições que Europa ou Estados Unidos nas negociações da OMC.