Quarta, 05 Fevereiro 2025

Quando completou 50 anos, idade de aposentadoria das chinesas, Chen Rui, uma contadora de carreira, imediatamente fez o que milhões de pessoas da mesma geração começam a fazer: entrou na briga para arranjar um novo emprego. Embora uma segunda carreira seja comum no Ocidente, para um enorme número de chineses urbanos, como Chen, que é viúva, conseguir mais uma ou duas décadas de trabalho remunerado é questão de sobrevivência.

A proporção de pessoas com 60 anos ou mais está crescendo mais rapidamente na China do que em qualquer outro grande país e o número de aposentados deve dobrar entre 2005 e 2015, quando a expectativa é que atinja os 200 milhões. Segundo projeções da ONU, na metade do século, cerca de 430 milhões de chineses, um terço da população, estarão aposentados.

Esse aumento imporá um enorme ônus para as finanças do Estado e poderá ameaçar os alicerces da economia, que vem prosperando há décadas com base na mão-de-obra barata de centenas de milhões de trabalhadores jovens e não qualificados provenientes da zona rural. As mudanças na estrutura da população está ocorrendo lado a lado com mudanças na estrutura da família. A política do filho único, criada em 1980, resultou que, a partir da atual geração de jovens adultos, os casais enfrentarão a difícil tarefa de cuidar de dois casais idosos.

Pelo mesmo motivo, a proporção entre trabalhadores na ativa e aposentados diminuirá de cerca seis para um para dois para um até 2040. Segundo o atual sistema de duas categorias, a idade de aposentadoria dos operários urbanos é de 50 anos para as mulheres e 55 anos para os homens. Para profissionais de grau superior e funcionários do governo, é de 55 anos para as mulheres e 60 anos para os homens.

Elevar a idade de aposentadoria diminuiria substancialmente a pressão sobre o sistema previdenciário, mas não há planos para tanto e, além disso, os especialistas dizem que isso apresentaria um outro conjunto de problemas. No ano passado, 4,13 milhões de jovens saíram das universidades e 30% estão desempregados. O desemprego também é alto entre os que não têm curso superior. Prolongar o tempo de atividade do trabalhadores mais velhos terá conseqüências imprevisíveis.

Quebrar a promessa de uma vida inteira, elevando abruptamente a idade da aposentadoria, criaria muitos descontentes. Por isso, o governo não tem conseguido chegar a um consenso sobre a forma de lidar com o problema, o que está deixando pessoas como Chen numa situação cada vez mais difícil.

Como a maioria das mulheres nessa idade, Chen tem só uma filha, conseqüência das rígidas políticas de controle da natalidade, o que significa que, com a pensão diminuta e uma só filha para ajudar, ela precisa prover o próprio sustento na velhice. ’’Estou economizando para o dote da minha filha e para mim mesma’’, disse Chen, que agora trabalha numa pequena empresa de importação e exportação. ’’Minha filha prometeu cuidar de mim depois que se casar, mas não quero ser um fardo. De qualquer forma, não é fácil para dois jovens tomarem conta de dois idosos’’.

A encruzilhada na qual se encontra a China toma a forma de uma questão freqüente: será que o país poderá enriquecer antes de envelhecer? Cada vez mais, os especialistas dizem que a resposta, com enormes implicações para a economia global, parece duvidosa.

Com a reformas radicais da China em favor do mercado, desde os anos 90, milhões de trabalhadores foram dispensados de estatais deficitárias. As obrigações do Estado para com esses trabalhadores, pelos chamados legacy pensions (planos de pensão prometidos quando a empresa era maior), juntamente com as obrigações mais recentes decorrentes do sistema novo, voltado para o mercado, superam US$ 1,5 trilhão, segundo o Banco Mundial.

’’Creio que a maioria das pessoas não se deu conta de quanto a situação ficará difícil’’, disse Li Shaoguang, diretor do Instituto de Seguridade Social da Escola de Administração Pública da Universidade Renmin da China, em Pequim. ’’Já estamos conscientes de que a porcentagem de idosos em nossa população é alta e está se elevando depressa. Portanto, para trazer mais gente para o sistema, a fim de pagar os atuais aposentados, o governo está tentando incluir mais trabalhadores migrantes. Isso poderá aliviar as pressões agora, mas também significa maiores pressões quando os migrantes envelhecerem’’.

Segundo algumas estimativas, no mínimo 500 milhões de chineses, a maioria da região rural, não têm cobertura do mal estruturado sistema de seguridade social do Estado. Reconhecendo a crise em formação, Pequim começou a se mexer há uma década para reformular o sistema previdenciário do ’’berço ao túmulo’’, legado do socialismo.

O novo sistema combina elementos do que existia antes - as contribuições fixas de trabalhadores mais velhos das indústrias estatais - com contas de aposentadoria individuais para quem está trabalhando na economia moderna. Tentativas posteriores de reforma para incluir grandes parcelas da população que estão sem cobertura encontraram vários problemas, a começar pelo seu imenso custo. Os especialistas dizem que a grande diferença de financiamento resultante da aposentadoria prematura no setor público tem feito com que , repetidamente, o Estado improvise para manter o sistema funcionando.

Fonte: O Estado de S.Paulo - 02 ABR 07

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