A hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, é um reservatório de problemas. Graves questões de ordem financeira se entrelaçam com desentendimentos societários, formando um emaranhado de cabos de alta tensão. O fio desencapado desta meada, informa o Relatório Reservado, é a explosão dos custos do projeto. Novos cálculos feitos pelo consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR), responsável pela construção da geradora, indicam que os gastos totais vão passar dos R$ 20 bilhões. A cifra é praticamente o dobro do valor original do empreendimento. O cronograma do projeto também entrou em curto-circuito. A entrada em operação de todas as 50 turbinas só deverá ocorrer no fim de 2016, um ano após o prazo estabelecido pelo ESBR.
Estes contratempos têm provocado fricções entre os sócios do ESBR. A banda estatal, formada por Eletrosul e Chesf e dona de 40% do capital, joga a culpa pelo aumento dos custos sobre as costas da GDF Suez. O grupo franco-belga é o maior acionista do consórcio: detém 40% – os 20% restantes estão nas mãos da Mitsui. Na condição de sócia majoritária, a GDF Suez foi a principal responsável pelo project finance da usina.
A Eletrobras, controladora da Eletrosul e da Chesf, sabe onde o calo lhe aperta. A mudança na política tarifária impôs sérios prejuízos à estatal e reduziu consideravelmente o seu poder de fogo para novos investimentos. O maltratado caixa da companhia não suporta o aumento do custo para a construção de Jirau. Mesmo porque a Eletrobras tem outro fio desencapado pela frente: no ano que vem, terá de fazer um desembolso tão ou ainda mais expressivo no leilão das usinas do Rio Tapajós. De acordo com uma alta fonte da própria Eletrobras, já se discute a possibilidade de Eletrosul e Chesf reduzirem sua participação no ESBR. O problema, neste caso, não tem quatro letras, mas, sim, sete: GDF Suez. O grupo, que seria um candidato natural à compra de parte das ações, já sinalizou que não vai aumentar sua fatia. Ao mesmo tempo, tem criado uma série de óbices a uma eventual negociação entre as estatais e a Mitsui. O objetivo seria impedir que os japoneses ampliem seu poder no consórcio. Consultada pelo RR, a ESBR não se pronunciou.