Agentes da Guarda Portuária (GPort) coibiram, na madrugada de ontem, uma tentativa de assalto no navio Safmarine Zambezi, atracado no Terminal de Contêineres da Margem Direita (Tecondi), no Cais do Saboó. Ao chegarem de lancha pelo mar, eles surpreenderam um grupo que estava retirando mercadorias de um contêiner e levando-as para pequenas embarcações. [...] A GPort deteve dois homens do bando. A pena prevista para esse tipo de crime é de oito anos. [...] O Órgão Gestor de Mão-de-Obra (Ogmo), responsável pela escala de trabalhadores no cais santista, confirmou que os dois são cadastrados na entidade. [...]
A notícia de A Tribuna Digital registra a continuidade de um antigo problema do porto santista: a presença de ladrões em lanchas conhecidas como "voadeiras", que se refugiam nos mangues da Ilha de Santo Amaro, chamados de "piratas", palavra que tecnicamente é inadequada ao caso, mas assim se popularizou. Apesar do sucesso na prisão de parte do grupo e de se frustrar o roubo ao navio, há uma série de questões que ficam:
1) Foi preciso que um guarda portuário da Ilha de Barnabé, à distância, notasse o roubo, ele não foi percebido no terminal nem pelo patrulhamento marítimo.
2) Os ladrões estão fichados como trabalhadores no cais, e mesmo agora, provavelmente o OGMO não terá como excluí-los enquanto a Justiça não os condenar, o que pode levar anos, dada a tradicional velocidade da justiça brasileira.
3) Vigias de bordo não "perceberam" o roubo, por algum dos tradicionais motivos: fingiram que não viram por interesse no produto do crime; fingiram que não viram por medo dos criminosos, já que estes podem estar armados e os vigias não; não viram nada simplesmente porque são poucos, um por navio, e não dá para controlar tudo, nem sequer fazer ronda.
4) A operação policial, por motivos que cabe às autoridades explicar, não foi capaz de cercar os ladrões, apesar de surpreendê-los, impedindo a sua fuga. Sabendo-se de antemão a sua rota de fuga, poderia uma equipe esperar nesse ponto para cortar o caminho. Ah, falta pessoal, equipamento? Que se providencie, então...
5) Que fazia a tripulação do navio, que nada viu nem ouviu? Para abrir um contêiner, é preciso um certo barulho, alguma movimentação de pessoas, a abordagem por mar não é tão imperceptível assim...
6) Os contêineres, a bordo, normalmente estão de tal modo agrupados que é difícil abrí-los (ficam porta com porta, nos navios em que há essa preocupação com segurança). E não há identificação externa das mercadorias que transportam. Então, deduz-se que existiu informação interna ("insider") sobre qual contêiner atacar, e até que esse contêiner seria posicionado de forma a facilitar o ataque. A polícia federal sabe disso muito bem, não é preciso que lhe ensinemos o ofício.
Enfim, se os roubos ou "atos de pirataria" são comuns, e a novidade é que desta vez alguns foram apanhados em flagrante, é porque a comunidade assim o permite. Se houvesse interesse em acabar de fato com a pirataria, ela já não existiria há anos...
Cada um tire as suas próprias conclusões.