Editorial | Coluna Dia a Dia
Portogente
Três décadas atrás, o Brasil inteiro era considerado um país fora das grandes rotas marítimas do mundo, que ligavam EUA/Europa/Ásia. Ficávamos apenas com apêndices da rota principal, ligando nossos portos aos dos EUA ou da Europa, com navios menores – quando havia interesse.
Esta situação se inverteu drasticamente. Agora, portos do litoral brasileiro (Santana/Macapá, Ilhéus e Santos, principalmente) estão no exato centro da principal rota marítima intercontinental, enquanto os portos do Norte Europeu e dos Estados Unidos perdem parte de sua importância e podem até (!) virar apêndices eventuais da rota principal.
A questão é: estamos preparados para desempenhar esse papel? Temos capacidade técnica, jurídica, econômica para executar – com agilidade e profissionalismo – os atos necessários a esta transformação?
Veja mais: Área técnica do TCU reprova modelo da Antaq para Tecon Santos 10 | BE News 19h - 26/8/2025
Vejamos um exemplo, conhecido como STS-10. Que acaba de ser criticado pelo próprio Tribunal de Contas da União (TCU), pela forma como a Antaq está conduzindo o processo licitatório. Não foi aceita a definição de que não poderiam participar empresas que já operem no porto santista, embora entendendo que, se uma delas for a vencedora, continuará tendo de vender as antigas instalações antes de firmar o novo contrato.
Ficam no ar questões como a participação do Conselho de Autoridade Portuária (CAP) nos debates: não poderia ser mais efetiva, com contribuições técnicas que evitassem esses problemas? Estará o CAP santista capacitado para expressar as posições de todos os interessados na melhor efetivação do novo terminal portuário? E para fazer valer a vontade da maioria, dentro das regras democráticas do jogo?
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Precisamos lembrar que neste novo mundo pós-2025, se podemos chamar assim, é preciso uma agilidade incrível para se manter à tona entre tantos embates internacionais, principalmente considerando que neste mundo, marcado por violento jogo de cabo-de-guerra entre grandes oponentes, Santos pode-se dizer que está no centro dessa corda esticada ao extremo.
Veja mais: O que a China está fazendo em Santos preocupa os EUA - Arvro, 26/8/2025
E mais: Santos e cidades vizinhas, o Estado de São Paulo e o próprio Brasil precisam estar à altura dessas novas exigências, não apenas em termos de capacidade de resposta aos desafios, mas principalmente a capacidade de prover essas respostas com a rapidez demandada por um mundo em alta velocidade e com cada vez mais pressa.
Temos o exemplo chinês: enquanto ficamos debatendo questões relativas a uma licitação, em nome da transparência na gestão pública e no trato com a iniciativa privada, aquele país asiático, mesmo com questões de Estado bem maiores, consegue alocar recursos e gerir eficientemente grandes obras mesmo no lado oposto deste planeta – como o novo terminal graneleiro STS-11 das estatais Cosco/Cofco, em ritmo rápido de construção e com níveis de detalhe bastante sofisticados para o padrão brasileiro e mundial.
Veja mais: O trem gigante que vai ligar o Brasil à China (e o preço é alto!) - Canal Top10, 26/8/2025
E as ligações terrestres do porto peruano de Chancay com o litoral atlântico brasileiro, por rodovia e ferrovia, completando na América austral a sua nova Rota da Seda... que agora passa (também) por Santos.

Há 2 anos, só havia o projeto. Em 8/8/2023, foi batida a primeira estaca. Veja como está agora...
Imagem: divulgação/Autoridade Portuária de Santos (APS)