Domingo, 29 Junho 2025

Temos abordado periodicamente assuntos que fogem ao cotidiano, apontando para cenários de um futuro próximo, alertando que é bom todos estarem atentos, anotando-os para acompanhamento no radar de negócios. Se os tsunamis vêm em ondas (muito maiores e, digamos, bem transformadoras da paisagem), o normal é que as mudanças cheguem em marolinhas, quase despercebidas, embora mudando em poucos anos todo o contorno litorâneo. Que o diga o bairro santista da “Ponta-sem-praia”...

Como os primeiros conteineres modernos, chegados secretamente ao Brasil em 1966 (duas décadas depois dos testes de Malcom McLean), e que em mais 20 anos mudaram totalmente a forma de transportar cargas no mundo, em terra, água e ar.

Destacamos, por exemplo, a Passagem Norte, nova rota marítima pelo Ártico que, quase silenciosamente, desencadeia reações e movimentos sutis entre os países do Hemisfério Norte, tratando de se posicionarem para não serem ultrapassados pela concorrência asiática.

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É assim que encaramos algumas alterações que estão sendo implantadas na paisagem brasileira, de forma até discreta. Como a volta do sistema ferroviário para cargas (e passageiros) no Sul-Sudeste do país, em bases modernas e sustentáveis. E as soluções ambientais chegando ao transporte marítimo, com a volta da propulsão eólea, mas atualizando históricas velas de pano e até mesmo substituindo os velames por equipamentos mais eficientes e autônomos.

Em 11/2024, apareceu em São Sebastião/SP o ‘Artemis’, moderno veleiro para transporte de café, provando haver demanda diferenciada para opções sustentáveis de transporte. Dias atrás, chegou a Santos o navio mercante ‘Atlantic Orchard’, mostrando as novas possibilidades no âmbito do transporte marítimo de sucos e outros granéis.

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Pequenas economias talvez, mas decisivas na negociação de fretes, por ajudarem a reduzir o famoso “Custo Brasil” que tanto atormenta quem atua em comércio exterior. Num mundo que já fez a opção pelo corte nos poluentes e vê com bons olhos cada esforço neste sentido, são mudanças que atraem a boa vontade de consumidores e de empresas que buscam zerar a pegada ambiental em toda a sua cadeia logística.

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Chega da velha história de que o Brasil perde 30% da sua produção entre a porteira da fazenda e o porto marítimo, por causa do péssimo estado das rodovias. E da antiga conversa de que a matriz nacional de transportes está de ponta-cabeça. São verdades conhecidas décadas, tempo demais para não ter havido reação à altura da gravidade desses problemas. Passou muito da hora de enfrentar a situação, mas pelo menos a notícia da renovação ferroviária traz uma esperança: as obras estão começando.

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Em meio ao cansativo bla-bla-bla de Especialistas e ‘especialistas’, que parece mais destinado a fazer com que nada mude num planeta em fase de mudanças extremas (mas muitos lucrem com o desenvolvimento de propostas que não saem do papel), a eterna espectativa é quanto ao transporte hidroviário de cargas, que após uma fase de grande desenvolvimento (com Mauá, na Amazônia, nas décadas de 1850/60, pois é!) e alguns aportes de recursos nos anos 1980, estagnou e regrediu nos últimos 30 anos.

Acreditem, segundo informa a ABEPH (desde 2/2024), citando a Antaq, a malha aumentou 958 km para um total de 20,1 km. Não leram errado, é assim que consta em seu site, com muita seriedade nos detalhes, omitindo no total a palavra “mil”...

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De qualquer forma, com ou sem “mil”, é muito pouco, se considerarmos o que Irineu Evangelista de Souza fez em poucos anos do século XIX, só em termos de navegação fluvial. Ou se compararmos com o Plano Nacional de Viação/2020, que previa mais do que o dobro estar instalado agora no País.

Hoje, sobram notícias e promessas de inundação de recursos financeiros. Mas, com tantas mentes criativas, o Brasil sofre com a falta de projetos exequíveis, estruturantes e integrados. Os ventos da mudança precisam arejar também esses cérebros...

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diaadiaportogente1Navegação fluvial na Amazônia, 150 anos atrás
imagem: Dissertação: Roberta Kelly Lima de Brito/Universidade Federal do Amazonas, 2018

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*O Dia a Dia é a opinião do Portogente

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