Uma vez que o câmbio não é uma variável controlável, só resta ao Brasil se concentrar na variável custo para elevar o comércio exterior, alçado a força-motriz de sua recuperação econômica. O custo Brasil ainda é muito elevado, encarecendo as exportações brasileiras entre 30 e 35%. Para ser competitivo, o país precisa de reformas tributária, trabalhista, previdenciária e de elevar os investimentos em infraestrutura, principalmente na área portuária; sobretudo no atual momento, em que as importações vêm crescendo o dobro das importações.
A afirmação é do presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, durante a abertura do Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex 2016), no dia 23 último, no Rio de Janeiro. Ele acrescentou que o Brasil exporta 40% de manufaturados e 60% de produtos primários, precisando “rezar” para que a China continue comprando nossas commodities, principalmente agora que o Brexit e a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos devem reduzir o avanço do comércio mundial. "Qualquer mudança depende de nós mesmos, sendo necessário um melhor entrosamento entre os setores privado e governamental para que tenhamos um mundo melhor, sem depender da taxa de câmbio para exportar, sobretudo manufaturados, e crescer", destacou Castro.
Também participaram da solenidade de abertura o ministro interino do MDIC, Marcos Jorge de Lima; os embaixadores do Brasil Sergio Amaral, nos Estados Unidos, e Marcos Caramuru, na China; o vice-presidente da Firjan, Carlos Mariani Bittencourt; o presidente da CNA, Antônio Mello Alvarenga; e os ex-ministros Ernane Galvêas e João Paulo dos Reis Velloso.
Bittencourt disse que o Brasil é a nona economia mundial, mas apenas o 27º exportador, ressaltando que a Firjan prioriza o comércio exterior e reconhece o esforço que o Governo vem fazendo em prol da desburocratização do setor, mas lamenta que os ganhos obtidos nessa área estejam sendo anulados por dificuldades no desembaraço aduaneiro. "O comércio exterior não pode ser uma válvula de escape para a queda da demanda no mercado interno. Precisa ser uma política de Estado", afirmou.
Fadiga
Durante o segundo painel do dia "Estados Unidos e China: Mercados Especiais, Atenção Prioritária", o embaixador Sergio Amaral disse que a globalização chegou a um ponto de fadiga, tendo deixado de promover as compensações esperadas em termos de renda e emprego para as populações, o que explica em parte movimentos de isolamento e protecionismo, com o Brexit e a eleição de Donald Trump.
Para Amaral, ainda não é possível prever o que acontecerá no Governo Trump, e se as relações entre EUA e China serão conflituosas. "Ainda há uma incógnita sobre como será o Governo Trump. Os analistas políticos no momento viraram meros adivinhos. Trump terá de acender uma vela a Deus e outra ao Diabo.”
Sobre a relação norte-americana com o Brasil, Thomaz Zanotto, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Direx/Fiesp) e também da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), acredita que o Brasil pode ser afetado apenas indiretamente pela eleição de Donald Trump. “A retórica protecionista americana poderá limitar o crescimento do comércio global, mas não deverá haver nenhuma ação específica contra o Brasil ou mesmo contra a Argentina, ao contrário do México. Para os EUA, o Brasil é ‘non issue’ (uma ‘não questão’, ou seja, não representa um problema). Além disso, os EUA têm superávit com o Brasil, e, em termos de manufaturas, o comércio entre os dois países se dá ‘intracompany’ (entre filiais e matrizes de uma empresa)”, destaca.