No mercado financeiro internacional, cada decisão estratégica interna de um país, com certeza, pode impactar direta ou indiretamente o cenário de outros. Quando se pensa em nações mais influentes, então, o peso de uma decisão pode modificar o mundo todo. É o caso das resoluções do Federal Reserve System (FED) — Banco Central dos Estados Unidos.
Isso porque, pela terceira vez no ano, o FED decidiu aumentar a taxa de juros de intervalo de 1,75% a 2% ao ano para a faixa de 2% a 2,25% ao ano, como forma de pôr fim à política monetária expansionista do país. Hoje, ele pretende manter inalterado o cenário político-econômico por causa do crescimento da economia com um mercado de trabalho sólido.
Apesar de agitar os ânimos do mercado financeiro mundial, esta é uma decisão esperada, visto que o último aumento ocorreu neste mesmo ano, em junho. A expectativa, nesse sentido, é que ainda haja cerca de quatro aumentos nos próximos meses: um ainda em dezembro e os outros no ano seguinte.
Os aumentos graduais (tanto os já realizados quanto os previstos para 2019) são parte de uma estratégia agressiva e efetiva do FED para conter a inflação. Afinal, o índice de preços do consumidor, por exemplo, subiu 2,3%, contando os 12 meses anteriores à julho, fora da meta do FED na época, mas, se descontada a volatilidade dos setores de energia e de alimentação, a inflação permaneceu na meta do Banco Central Americano de 2% ao ano.
Se a decisão do FED, para os Estados Unidos, demonstra finalmente uma estabilidade monetária, no âmbito mundial, já dá os primeiros sinais de volatilidade. Esse mau humor das bolsas de outros países se dá por um fator em específico: fuga de capitais, pois os recursos investidos em países emergentes, principalmente, passam a se realocar em investimentos estadunidenses.
Qual a relação dos juros americanos com o Brasil?
Como se sabe, a taxa de juros, no mundo dos investimentos, é basicamente a rentabilidade de um ativo financeiro; ou seja, quando determinado banco central decide aumentar essa taxa, dependendo do país, os investidores passam a aplicar recursos com mais ênfase, pois garantem melhores retornos.
No entanto, tudo depende do nível de segurança que a nação possui, pois é preciso analisar também a qualidade das aplicações. Os títulos dos Estados Unidos, especificamente, são vistos como bastante seguros, então, como resultado, a saída de capitais de países emergentes, como o Brasil, para investimentos americanos é certa.
Na prática, as perdas na bolsa brasileira já podem ser percebidas. Isso porque ativos norte-americanos se tornam mais interessantes do que os de países emergentes, principalmente para investidores de perfil mais conservador. Afinal, os Treasuries, títulos da dívida pública dos Estados Unidos, são consideradas as aplicações mais seguras do mundo inteiro e, com o aumento dos juros, oferecem a melhor relação risco x retorno.
Unido a isso, o Brasil passa por momentos de instabilidade, típicos de ano eleitoral, fazendo com que seus investimentos sofram ainda mais com a volatilidade e corram mais risco de mercado. No entanto, para os investidores brasileiros, são esses acontecimentos internos que impactam diretamente nos ativos, sendo que a alta dos juros americanos não ofereça perigo, pelo menos, no curto prazo.
Outro impacto significativo — resultado da realocação de recursos na bolsa estadunidense — é a valorização do dólar. Isso ocorre porque, para a compra de títulos dos Estados Unidos, muitos investidores precisam comprar a moeda norte-americana. Como resultado, a tendência é que o real se desvalorize, podendo chegar a R$4 o dólar.
Consequência dessa alta, espera-se que haja uma pressão inflacionária, pelo encarecimento dos produtos importados, pagos em dólar, e pelos itens exportados, já que produtores podem cobrar mais nas vendas internas, já que recebem mais nas exportações também.
Por fim, para tentar aquecer o mercado financeiro e acompanhar o aumento dos juros americanos, a possível estratégia do Banco Central é de que a taxa de juros Selic também aumente. Mas é preciso ter cautela nesse momento, pois ainda que seja excelente para os investimentos, principalmente os de maior risco de mercado, pode trazer efeitos negativos sobre as atividades econômicas no geral.