O ano de 2019 foi tomado por um debate crescente sobre a necessidade de desenvolvimento da região da Baixada Santista, marcada por profundas diferenças sociais e pela necessidade urgente de geração de empregos. Reconhecida no mundo pela presença de um dos maiores portos da América Latina, essa região necessita, para seu crescimento, pensar projetos de mobilidade urbana e logística, como o da ligação seca entre as duas margens do Porto de Santos.
As últimas novidades sobre o tema dão conta de que a Codesp, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, incorporaria o projeto do túnel ao Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto. Por sua vez, a Ecovias teria apresentado, na primeira quinzena de dezembro passado, uma nova proposta com revisão das dimensões técnicas da ponte, de forma a não prejudicar a movimentação no Porto.
As discussões sobre o projeto de ligação seca permanecem fechadas nos gabinetes, o que impede a população de ter conhecimento sobre a melhor proposta para a região. Enquanto impera a falta de informação da sociedade civil sobre esse tema, alguns cursos de graduação da região buscam discuti-lo com mais profundidade.
Estudos na Unisantos
Estudantes da disciplina Planejamento Territorial Urbano II, ministrada pela professora Dra. Mônica Antônia Viana, do curso de Engenharia Ambiental da Unisantos, analisaram os projetos de ligação seca - ponte e túnel - no segundo semestre de 2019.
Verificando os pontos positivos e negativos da ponte, além de uma breve comparação entre ponte e túnel, alguns integrantes apoiam a alternativa da ponte devido ao seu baixo custo, menor tempo de construção e menor impacto nas cidades (remoções). Outros integrantes consideram o túnel uma melhor alternativa, devido aos diferentes tipos de modais que se interligam, à ausência de tarifas e menor impacto na paisagem urbana. O trabalho é assinado por Allana dos Santos, Ana Carolina Lunardi, Bianca Siciliano, Bruno Allegretti, Karina Fagá, Lucas Branco, Mateus Alvarenga e Rafaela Mendes.
Analisando o projeto do túnel, os estudantes Caio Monteiro, Camila Araújo, Caroline Rodrigues, Filipe Mendes, Gabriella de Ponte, Luan Cabral, Mônica Duarte e Natália Pinheiro concluíram que as vantagens do projeto do túnel são: “contempla a passagem do Sistema Veicular Leve sobre Trilhos (VLT), com integração dos sistemas de transportes públicos; possui três faixas de rolamento para veículos e mobilidade - espaço totalmente preparado para ciclistas e perdesse, sem fumaça e barulho, isolado e ventilado; diminuição do trajeto entre as duas cidades; redução da emissão de gases poluentes, contribuindo para a qualidade de vida da população; redução de 40 km da distância que se percorre hoje; ligação entre duas cidades; não promove supressão do mangue; muito mais discreto, pois mantém a paisagem sem grandes obstáculos (impacto visual); mais amplo: traz soluções para o porto e o trânsito das duas cidades, possui licença prévia e projeto executivo; captura de 70% a 100% do tráfego da balsa; permite o acesso futuro ao Aeroporto Metropolitano do Guarujá”.
As desvantagens são: “maior custo em relação à ponte; desapropriação da população do Macuco e área Continental; limitação do calado para dragagem do Porto; maior incidência de trafego de caminhões na região do Macuco; custos a cargo da Dersa; maior tempo de obra (40 meses); alça sai de dentro de bairro”.
Em um projeto de iniciação científica do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas – IPECI, orientado pelo professor José Marques Carriço, o estudante de Arquitetura e Urbanismo da Unisantos, Andrei Krichinak Faria, realizou uma análise das conexões hidroviárias existentes e propostas de ligação seca entre os municípios de Guarujá/SP e Santos/SP.
“Uma questão que ficou evidente durante as análises é que somente a conexão entre as duas ilhas não resolve, devido às dimensões dos fluxos urbanos e portuários. Seria necessária uma série de projetos de conexões, cada uma beneficiando um setor da região. E devido ao alto custo destas, a proposta feita pela Dersa se mostra como a melhor alternativa para o contexto atual, haja vista que encontra os melhores índices de captação do tráfego urbano, pela criação da conexão entre as duas margens do porto e ao mesmo maximizar o tráfego não motorizado. Porém, seria necessário adotar em conjunto uma série de medidas no campo do planejamento urbano, em ambas as cidades, de forma a evitar ou mitigar seus efeitos indesejáveis. Além disso, percebe-se que o estado não tão cedo resolverá esta questão, pois somente em período eleitoral costumam surgir novas propostas”, analisou o estudo.
Apesar da qualidade dos estudos realizados, os estudantes levaram em conta o antigo projeto do túnel da Dersa, e não o atual, o chamado Túnel Otimizado, cujo custo de construção é bem inferior ao primeiro e que não inclui desapropriações, conforme a Codesp.
Para além da ação das universidades, cabe às instituições públicas, conforme reiteramos sempre na coluna, divulgar os debates e inserir a população no debate sobre a ligação seca.
Em novembro o IPAT, instituto de pesquisa do grupo A Tribuna, realizou uma pesquisa para a Prefeitura de Santos, onde 65% dos santistas aprovam a construção de uma ponte. Pelos resultados apresentados pelo jornal A Tribuna, a pesquisa não apresentou a profundidade necessária para uma obra de tal porte. Chama atenção que 18% dos que aprovam o projeto consideram positivo “a obra não ser paga com dinheiro público”. A extensão do contrato de concessão está diretamente ligada aos recursos públicos. Também chama atenção os comentários dos leitores no site do jornal: 9 (nove) são contra a ponte, 1 (um) é favorável e 1 (um) se mostra neutro.
* Jornalista, fotógrafa, pesquisadora, docente, pós-doutora em Comunicação e Cultura e diretora da Cais das Letras Comunicação. Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.