Mais uma vez, o Porto de Itajaí é manchete por suspeitas de irregularidades investigadas pela Polícia Federal (PF). Depois da Operação Iceberg, que afastou do cargo no final de janeiro o então superintendente do porto Wilson Francisco Rebelo, a PF deflagrou na sexta-feira (20) a Operação Influenza. Organizada para apurar suspeitas de crime contra o sistema financeiro, com lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e fraudes em licitações, a Operação levou novamente para a cadeia o ex-superintendente Wilson Rebelo. Entretanto, a maior surpresa foi a prisão do assessor de imprensa do Porto de Itajaí, Anderson “Fiu” Saldanha.
Na sexta-feira, os policiais federais executaram em Santa Catarina e em São Paulo 24 mandados de prisão – sendo seis preventivas (uma delas a de Wilson Rebelo) e 18 temporárias (caso do assessor do porto Anderson Saldanha) – e 54 ordens de busca e apreensão em Florianópolis, Itajaí, Blumenau e Joinville, entre outras cidades catarinenses. E como se não bastasse, o delegado da PF Roberto Cordeiro disse à imprensa catarinense que a Operação Influenza tem relação direta com a Operação Iceberg, que precipitou a saída de Wilson Francisco Rebelo do cargo de superintendente do Porto de Itajaí no primeiro mês de 2008.
“As investigações para a Operação Influenza começaram a partir do momento em que nós esclarecemos vários problemas no Porto de Itajaí. Dali para frente, nós descobrimos uma grande rede de crime organizado. Isso que fizemos agora é sim um desdobramento da Operação Iceberg, quando foi preso o Wilson Rebelo, por conta de fraudes na concessão de benefícios do INSS em Tijucas (SC)”, disse em entrevista coletiva.
O esquema com empresários e pessoas da área administrativa do Porto de Itajaí funcionaria da seguinte forma, segundo a PF: a organização realizava operações cambiais ilegais, ocultava bens, rendas e movimentações financeiras, tudo por meio dos chamados laranjas. O mesmo grupo comanda operações comerciais simuladas com o uso de documentos falsos e fraudava licitações. Para realizar os crimes, os acusados corrompiam servidores mediante o pagamento de propina nos portos de São Francisco do Sul e de Itajaí.
Espanto
Ainda de acordo com as investigações, o assessor de imprensa do porto, Anderson “Fiu” Saldanha, atuaria como braço direito do ex-superintendente Wilson Rebelo. Obedecendo a ordens dele, o jornalista teria fraudado uma licitação para contratação de uma empresa de publicidade. Para o delegado Roberto Cordeiro, mesmo preso em janeiro, Wilson continuou a comandar o esquema. O principal indício é o carro que ele usa, importado, zero quilômetro e registrado em nome do novo superintendente do porto, Gaspar Laus, empossado há duas semanas.
Depois de tudo isso, o prefeito de Itajaí, Volnei Morastoni (PT), responsável por conduzir aos cargos do Porto de Itajaí os presos – o porto é municipal e, em última instância, o prefeito responde por ele – encaminhou à Polícia Federal sua opinião sobre as prisões do assessor de imprensa do porto, Anderson “Fiu” Saldanha, e do secretário de Comunicação de Cidade, Normélio Weber, mais um envolvido nas investigações da PF.
“Reitero que quero todas as informações possíveis sobre o caso em minhas mãos, porque estas prisões tiveram forte impacto pessoal, social e familiar. Merecemos alguma explicação. Não quero acreditar que a operação tenha qualquer orquestração política. O secretário Normélio Weber, por exemplo, também é professor universitário e, por conta disso, é respeitado em Itajaí, onde realiza um extraordinário trabalho comunitário, social, político e cultural. Está impactado com sua prisão e quer justificativas”, disse Morastoni na noite de sexta-feira.
As penas previstas para os crimes ultrapassam cinqüenta anos de reclusão, além de multa. PortoGente procurou os representantes dos envolvidos e citados nesta reportagem, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. Veja abaixo a lista liberada pela Polícia Federal com os nomes de todos os investigados na Operação Influenza.
Prisões preventivas
Francisco Ramos, empresário do setor de grãos (São Paulo)
Antônio Iafelice, empresário do setor de grãos (São Paulo)
Wilson Francisco Rebello, ex-superintendente do Porto de Itajaí (Itajaí)
Joaquim Vanhoni, empresário (Itajaí)
Antônio Augusto Pires Júnior, empresário (São Paulo)
Miguel Murad Varella, delegado aposentado da Polícia Federal (Itajaí)
Prisões temporárias
Anderson Régis Falladino (São Francisco do Sul)
Antônio Torrens (São Francisco do Sul)
Fernando da Rocha Cortez (São Francisco do Sul)
Alexandre Sil (Balneário Camboriú)
Carlos Aberto Wanzuit (Gaspar)
Carlos Vanhoni Neto (Balneário Camboriú)
Daiane Bento (Balneário Camboriú)
Jackon Corbari, delegado da Receita Federal em Itajaí (Itajaí)
Anderson Saldanha, assessor de comunicação do Porto de Itajaí (Itajaí)
Nelson Arno Maul (Blumenau)
Normélio Weber, secretário de comunicação de Itajaí (Itajaí)
José Cláudio Grandi (Florianópolis)
Ricardo Oscar Vitic (Itajaí)
Roberto Luiz Marcon, diretor da Cidasc (Florianópolis)
João Qimio Nojiri (São Paulo)
Roberta Barros Becheli Rosales (São Paulo)
Luis Carlos Mendes (Itajaí)
Marcelo Moreira (Blumenau)
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