Por Thaís Barbosa
Estatísticas de vários centros de pesquisas revelam que a expectativa de vida entre os brasileiros é cada vez maior e atualmente já é possível encontrar pessoas que chegaram aos 100 anos ou mais. Esse é o caso do ex-conferente de carga e descarga, o aposentado, Antonio Naccarati, que completou 100 anos em plena forma, em 31 de julho.
Naccarati é filho de italianos e nasceu na Capital. Veio para Santos aos 19 anos e só depois de casado, aos 32 anos é que foi trabalhar no Porto, em 1937. Foram 30 anos de sua vida dedicados à profissão até se aposentar, em 1968.
Antonio Naccarati entrou no Porto de Santos por intermédio da sogra, que aplicava injeções a domicílio e durante uma de suas visitas conheceu um funcionário da Guarda Real Inglesa e falou de seu genro que vivia de cobranças e comissões.“Esse rapaz me encaminhou ao presidente do sindicato dos conferentes, que na época era o Nestor Bitencourtti, me apresentei e ele me pediu diversos documentos que eu não tinha, daí eu peguei o dinheiro das cobranças e fui providenciá-los, voltei no dia seguinte para entregar-lhe, ele bateu um papel e me mandou fazer uma prova de habilitação, pois naquela época não havia concurso.” Depois disso foram 31 anos exercendo a função.
Os conferentes eram classificados como categoria de “elite”, porque tinham que andar de terno, gravata e chapéu e seus instrumentos de trabalho lápis, papel e borracha, pois na época ainda não existia caneta esferográfica. O porto tinha apenas seis quilômetros de cais, hoje são 13 quilômetros. “E mesmo menor ‘virava’ navio dia e noite, direto, não tinha descanso”. Conta Naccarati.
Segundo Naccarati naquela época as horas extras eram ganhas em dobro no que se referia ao salário do dia. “O salário era bom, nós ganhávamos 25 mil réis por dia; os estivadores ganhavam 18 mil réis e os doqueiros, 14 mil réis”. Tanto que, em dois anos, Naccarati conseguiu quitar sua casa, que tinha sido acordado para se pagar em quatro anos. Relembra o ex-conferente.
O Sr. Antonio se diverte ao lembrar que naquele tempo não havia escala, “éramos avulsos e tínhamos que percorrer por todo cais atrás de trabalho, até ganhamos o apelido de mendigos engravatados”.
Naccarati conta que a fase mais difícil no Porto foi quando o Governo do Brasil tinha então declarado apoio aos aliados, grupo liderado pelos Estados Unidos, que entraram na guerra contra os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). “Nós passamos uma fase ruim em 1939. Tinha dia que não entrava um navio no porto porque podiam ser torpedeados pelos submarinos alemães. Foi a época mais parada.” Recorda.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Antonio Naccarati e um amigo descendente de alemães, foram sabotados por um colega de profissão, que os colocou numa lista negra, que foi entregue ao chefe direto, dono de uma agência marítima inglesa, que deu ordem de não dar trabalho para os dois aos encarregados do cais.
Foi nesse período que ironicamente ganhou mais dinheiro. “Fui trabalhar no embarque de bananas, pois o Brasil exportava muito dessa fruta, principalmente para o Uruguai e a Argentina”. Um mês depois do episódio, o chamaram para trabalhar novamente na agência inglesa.
Em comemoração aos seus 100 anos, Naccarati recebeu uma série de homenagens, além das festas em família, uma delas foi o almoço dos veteranos no Clube de Regatas Saldanha da Gama, onde Antonio praticou vários esportes, principalmente o remo. "Teve até banda de música do exército e ainda inauguraram um espaço no clube com o meu nome e uma placa linda, já do sindicato ganhei uma placa por ser o ex-conferente mais antigo vivo”. Conta emocionado.
