Quarta, 05 Fevereiro 2025

Quem trafega pela Via Santos Dumont e não conhece Guarujá estranha ao descobrir que, em meio aos trilhos e muito mato na margem direita da avenida, há uma comunidade vizinha ao Porto de Santos, onde moram cerca de 1.700 famílias, ou seja, mais de 6 mil pessoas. Conhecido como Sítio Conceiçãozinha, o local deve ser extinto em breve do mapa, em nome da expansão do porto santista e de melhores condições de vida para os moradores do bairro.

 

Recentemente, o Governo Federal anunciou a liberação de R$ 100 milhões oriundos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) para a remoção dos moradores do Sítio e da Prainha, bairros que integram o projeto Favela Porto-Cidade, visando a expansão do Porto de Santos por meio de territórios da vizinha Guarujá e a transferência dessas famílias para conjuntos habitacionais longe da área portuária.

 

Com isso, novos terminais seriam instalados no distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá, e os investimentos no complexo portuário cresceriam drasticamente, com mais cinco berços de atracação para navios, por exemplo. Mas enquanto todos esses projetos não saem do papel, os moradores de Conceiçãozinha lutam contra a pobreza e as dificuldades de conviver encaixotados entre as instalações da Cargill e da Cutrale, que movimentam soja e suco de laranja.

 

Quem recebeu a reportagem do PortoGente foi o morador Marcelo Brito, que levou uma série de documentos para provar a luta dos seus colegas por melhorias no bairro. Há 14 anos, conta Marcelo, o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, esteve em Vicente de Carvalho - distrito onde passou parte de sua infância – e conversou com os líderes do Sítio Conceiçãozinha, prometendo o título de posse das terras do local caso fosse eleito presidente do Brasil.

 

Em partes, Lula cumpriu a promessa ao repassar a área para a Prefeitura de Guarujá há cerca de dois meses. Mas o projeto de transferir os moradores de lugar para a expansão do Porto de Santos desagradou todas as pessoas ouvidas pela reportagem. Enfrentar o chão sujo e o cheio muitas vezes desagradável da soja é difícil, mas sair de Conceiçãozinha traz arrepios às pessoas, jovens ou velhas, homens ou mulheres.

 

“Leio sempre os jornais, minha mulher até reclama de tanto papel que junto em casa. Mas é assim que eu descubro as coisas e tento seguir em frente. Poucos aqui sabem de tudo que acontece, passo a passo. Um fato que me preocupa, por exemplo, é saber pela imprensa que a Codesp já concluiu estudos de ocupação de nossa terra, considerada boa para terminais de contêineres. E o que será de nós?”.

 

Esse estudo citado por Marcelo mostrou que a área de Conceiçãozinha tem 412 mil metros quadrados de retroárea e capacidade para abrigar dois navios, em um cais de 500 metros de extensão. O fim da comunidade parece se aproximar cada vez mais rápido, mas ele tenta não se abater.

 

Após várias andanças, muita lama na avenida principal – a mesma que dá acesso ao Terminal da Cargill – e valas abertas nas vielas e pequenos corredores, dois lugares chamaram atenção, pelos absurdos contrastes. Um deles foi a parte do bairro que fica sobre o mangue, com muitas palafitas e lixo acumulado. Mesmo assim, as crianças não se importam e tentam se divertir nos pontilhões de madeira.

 

E a pobreza das palafitas torna-se um choque ainda maior quando andamos mais um pouco e chegamos ao centro da colônia de pescadores do Conceiçãozinha, onde o mar do canal do estuário brinda os profissionais com uma vista extraordinária do Porto de Santos e sua intensa movimentação. É desse local que os pescadores saem todas as manhãs ávidos em procurar peixes para alimentar a própria comunidade e garantir, com isso, um dinheiro a mais no final do mês.

 

Lá, um dos integrantes da cooperativa defende com unhas e dentes a não utilização do bairro para a expansão do Porto de Santos. Trata-se de Valdir dos Santos, por ironia do destino, pescador e estivador. Quando perguntado como se sentia ao perceber que uma das profissões poderia ajudar a limar a possibilidade de continuar com a outra, ele rebate prontamente.

 

“O problema dessa história é que ninguém vem aqui nos ouvir. Ficamos sabendo pela mídia do que querem fazer conosco, mas a nossa opinião não é colhida. Como vão acabar com nossa atividade da pesca. Se mudarem a gente de lugar, não vão nos levar para outra região em que também haja pesca, pois é tudo zona portuária. Que o porto cresça, pois também sou estivador e adoro o cais, mas amo a pesca e sei que isso aqui é a única fonte de sustento de muita gente”.

 

Pelo jeito, a utilização da região de Conceiçãozinha pelo Porto de Santos é inevitável, devido a excelente localização do lugar. O que se espera é que as autoridades portuárias e municipais façam o que fez a reportagem do PortoGente, indo ao local e conhecendo a realidade dessas pessoas, que só não querem ser colocadas de lado em nome do crescimento comercial. Afinal, o convite de um dos pescadores ainda está de pé. “Venha aqui um dia e almoce um belo siri conosco. A não ser que nos tirem antes daqui, todos estão convidados”.

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