* enviada especial à Operação Unitas
Dia de conhecermos uma realidade completamente oposta à brasileira no que diz respeito à personalidade. Dia de visita ao todo-poderoso contratorpedeiro norte-americano Ross. Não há como negar: eles exalam soberania.
Diferentemente dos hospitaleiros espanhóis, que nos levaram à Praça d'Armas para iniciarmos a conversa, o papo com os norte-americanos foi logo no Centro de Operações e Combate (COC). Quem nos acompanhou durante toda a visita foi a master-chief Sharon Laguna, 25 anos de Marinha, uma espécie de auxiliar do imediato.
Eles são racionais e calculistas, pensam antecipadamente em tudo o que vão responder. Nada é dito de coração, com emoção.
Ao entrarmos no COC, um choque. Apesar de não conhecermos tecnicamente o funcionamento de todos os equipamentos e aparelhos, percebemos a alta tecnologia implantada naquele navio. Não observamos o sorriso de um tripulante, ao contrário, todos faziam questão de nos olhar com desconfiança. Era só nós passarmos perto deles para fecharem todos os notebooks. É até engraçado lembrar... De repente nós poderíamos ser espiões, não é mesmo?
Laguna, treinadíssima, nos deixou à vontade para bater fotos. Explicou-nos brevemente o funcionamento do COC e nos levou, claro, para conhecer todo o navio.
Seguimos em direção ao passadiço e lá encontramos com o comandante. Saudações iniciais e, logo, uma gentileza americana: "Por que não tiram fotos da fragata brasileira Independência?", perguntou o comandante. Explicamos que a foto sairia escura, pois o navio estava contra-luz. Rapidamente ele nos apresentou uma solução bastante prática: "vocês querem que eu guine o navio para onde?", perguntou, desta vez, com um largo sorriso. Sem jeito, desconversamos.
Já era perto do almoço quando a master-chief nos levou ao refeitório. Vivenciamos o jeito americano de comer! Um cardápio com algumas opções a serem marcadas pelo tripulante. Aliás, nenhum deles sequer olhava para o lado. A não ser um brasileiro que estava como observador no navio americano. Naquele dia o cardápio era tipicamente mexicano. Deixamos a mesa indigestos.
Fomos conhecer o restante do navio. Camarotes, refeitórios, casa de máquinas, loja. É... o americano não perde tempo. Até dentro da embarcação há uma pequena loja onde são vendidos souvenires. No corredor, perto deste local, há máquinas que vendem refrigerantes e petiscos aos tripulantes.
Sharon Laguna diz que a sua tripulação varia de 260 a 300 pessoas, sendo 10% de mulheres praças. Não há oficiais do sexo feminino. Ela explica que não há tolerância no que tange ao relacionamento sexual entre homens e mulheres. Se é descoberto algum caso, os envolvidos podem ser rebaixados de posto e ainda excluídos.
Se há casais dentro da Marinha, eles são embarcados em navios separados, senão há chance deles perderem o foco da missão. Além disso, explica, dessa maneira é possível ter sempre um deles em casa.
Laguna pode-se considerar uma manda-chuva. Por onde anda, faz gracejos com os praças, mas está sempre de olho em tudo o que acontece. Cuida da política do dia-a-dia e fiscaliza o cumprimento dos deveres.
Do lado de fora do navio, o Ross participava de um exercício de reabastecimento simultâneo. O navio-tanque espanhol Marques de La Ensenãda deveria abastecer ao mesmo tempo a corveta argentina Robynson e o contratorpedeiro Ross. O exercício foi observado no convés pelo comandante e por mais alguns oficiais. Como já é sabido, ao término da faina, houve a tradicional música nativa e o cumprimento oficial entre os comandantes.
Não preciso dizer que com os americanos foi diferente. Todos que acompanhavam o evento do lado externo começaram a dançar freneticamente. Não nos contivemos e demos boas gargalhadas enquanto eles chacoalhavam o corpo fora de compasso. Bom de dança mesmo são os brasileiros.... Divertimo-nos.
Quando pensávamos que havia terminado completamente o exercício, veio a ordem do comandante: força total nas máquinas! O navio chegou a 30 nós (cerca de 60 km/h). Deu para sentir a ação da adrenalina em nosso corpo. Sabe uma sensação de prazer misturada com medo, de liberdade com impotência? Pois bem, ficamos extasiados com a beleza da esteira formada pela potência das turbinas. Uma visão inesquecível.
Passamos mais algum tempo no navio, jantamos e retornamos à nossa amada Rademaker. Que alegria!
À noite uma reunião entre os oficiais ditava o tom do dia seguinte. Muita concentração e expectativa. Era o exercício mais aguardado, sonhado e importante para a fragata Rademaker: o lançamento do míssil Seawolf. Fomos dormir ansiosos.
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