Mário Lanznaster é presidente da Cooperativa Central Aurora Alimentos e vice-presidente para o agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc)
A corrupção é um vírus que ataca as organizações em geral e a estrutura estatal em particular. Em face de sua repercussão nos meios de comunicação, especialmente nesses últimos dois anos, o combate à corrupção no País gera a sensação de que se trata de um mal endêmico, do qual nunca nos livraremos.
Uma das principais constatações que esse cenário permite é de que as instituições republicanas – em nome do interesse da coletividade – estão em pleno vigor e funcionamento, como o Ministério Público Federal, a Procuradoria Geral da República, o Poder Judiciário etc. Nunca se investigou, processou e condenou tantos agentes políticos e econômicos como nesse período.
Apesar do amplo, total e irrestrito apoio da sociedade civil brasileira a esse movimento, é necessário observar que a prática permanente e continuada da corrupção não é privilégio dos altos escalões da República nem das elevadas esferas do empresariado nacional. Lamentavelmente, ela está entranhada em todos os estamentos da sociedade.
Há uma profusão de casos que documentam essa conclusão. As fraudes nos programas sociais, por exemplo, do bolsa-família ao seguro-desemprego. Quantas informações falsas são prestadas para configurar uma situação irreal e garantir a concessão indevida de benefícios. A recente revisão dos processos de perícia médica que levaram milhares de pessoas ao afastamento temporário do trabalho com a percepção de benefício revelou que cerca de 80% são fraudulentos e, necessariamente, devem ser cancelados.
Parece que a sociedade brasileira tem uma incompreensível condescendência com esses atos conscientes de má-fé, maquinação e astúcia que, no passado, eram festejados como ingênuas manifestações do “jeitinho brasileiro”. Uma leitura mais contemporânea e menos complacente pode concluir que se tratam de condutas condenáveis, eis que impregnadas de devassidão ética.
Mesmo com a nossa tendência de flexibilizar e relativizar os juízos de apreciação referentes à conduta humana, suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, chega-se a um ponto em que não é possível conviver com essa hipocrisia – a de condenar os corruptos e aceitar pequenos e grandes atos cotidianos de corrupção em casa, no trabalho, nas relações sociais e nas relações com o Poder Público.
É matéria de alta indagação e estudo para sociólogos e educadores essa indolência do brasileiro com a ética e a moral, a norma e o interesse coletivo. Precisamos combater essa depravação do caráter que é a lei de Gérson (“sempre tirar vantagem em tudo”), iniciando por nós mesmos, em nossas vidas e em nossos círculos de convivência.