Segunda, 25 Novembro 2024

Coriolano Xavier, Vice-Presidente de Comunicação do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM

Em outubro celebra-se o Dia Mundial da Alimentação (16), instituído em 1981 pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), com o objetivo de conscientizar as lideranças mundiais e opinião pública em geral sobre as questões de segurança alimentar e seus impactos sobre o desenvolvimento econômico e a paz mundial.

A escassez de alimentos no mundo já não é tão aguda como há meio século. Mas estima-se que 800 milhões de pessoas ainda vivam em uma situação de insegurança alimentar, sem acesso a uma alimentação saudável, de qualidade ou em quantidade suficiente para suprir as suas necessidades. No Brasil, aliás, a segurança alimentar é um direito que está na lei, uma expressão de cidadania (Lei 11.346/2006).

Mas tem outro assunto alimentar cuja solução o homem ainda está devendo para si mesmo: o desperdício de alimentos. E olha que é um desafio gigante: 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados por ano, no planeta, provocando uma fantástica perda de 750 bilhões de dólares¹, valor equivalente a oito vezes as exportações do Brasil no agronegócio (2015) – nós que somos a segunda nação exportadora do mercado agro internacional.

Outros números decorrentes desse enorme desperdício: 1,4 bilhão de hectares cultivados inutilmente, para produzir alimentos que não chegam a ser consumidos. Algo como 14 milhões de km², área similar à soma dos territórios do Brasil, Argentina, México e Venezuela. Aliás, quando se fala em sustentabilidade, um eixo essencial da conversa bem que poderia começar por aí: o absurdo desse desperdício de alimentos, de terra e de recursos.

Só que essa extraordinária perda não é homogênea: 56% das perdas estão associados a países desenvolvidos e 44% ligados aos países em desenvolvimento. E, se olharmos no contexto da cadeia produtiva do agronegócio, a disparidade se repete: 47% do desperdício acontecem nos sistemas de distribuição, abastecimento e consumo; 5% no processamento; 24% na produção, no campo; e 24% durante o manuseio e estocagem.

O Dia Mundial da Alimentação é um ícone, uma data referencial e temática absolutamente pertinente, pois somos sete bilhões de habitantes no planeta e já está no horizonte o dia em que seremos nove ou dez bilhões, todos com o direito social e fundamental à alimentação. Nesse contexto, o desperdício é um desafio estratégico dos países, para o qual não existem pequenas ou poucas soluções.

Certamente serão dezenas, centenas ou milhares de frentes para atacar o problema, desde macro soluções até pequenos detalhes como, por exemplo, a introdução de aprendizado sobre conservação e desperdício (de recursos em geral) nas escolas, desde o ensino fundamental. Começaríamos, assim, a salvar o prato futuro desde já, enquanto tentamos colocar o presente nos eixos.

1-* Fonte: Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e World Resources Institute, in “Super Interessante”, edição 363, 2016

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