Domingo, 24 Novembro 2024

Por José Luiz Tejon Megido, Conselheiro Fiscal do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Dirige o Núcleo de Agronegócio da ESPM, Comentarista da Rádio Jovem Pan

Crises são ótimas, pois nos obrigam a criar. A fórmula para o enfrentamento da entropia é criatividade. Quando olhamos para o cooperativismo brasileiro, suas origens, seus desafios, vamos encontrar seres superantes da melhor espécie. Pessoas em pequenos grupos, visionários corajosos, valentes, iniciaram no passado o que hoje nos orgulhamos de ver representado pela OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras, pelo atual líder, Marcio Lopes de Freitas.

Da mesma forma a superação borbulha por todos os cantos e campos do agronegócio do país. Na parábola bíblica do semeador, é recomendado “não plantar em terras fracas“. O Brasileiro que supera, transcendeu até este ensinamento e hoje colhe mais de 650 milhões de toneladas de cana em terras fracas, consideradas no passado, inviáveis. Da mesma forma a força da superação vive exemplificada na evolução competitiva sensacional da produção de grãos, da suinocultura, da avicultura, dos saltos qualitativos da carne bovina e do leite. E, iremos ver esse mesmo espetáculo superante na aquicultura dos próximos anos.

O amigo Ivan Wedekin, ex-secretário da política agrícola no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, na época do Ministro Roberto Rodrigues, me disse estes dias que o impacto do governo sobre a receita do produtor nacional é de apenas 3%. Ou seja, os produtores brasileiros têm progredido e vieram a ser nesta metade da segunda década do novo século, exemplos vivos de superação concreta, como protagonistas.

A agroindústria processadora no país, em meio a custos logísticos impressionantes, a tributação e a desgovernança pública e política, demonstra liderança global. Compete com grupos multinacionais e sistemas de proteção gigantescos. Até no carnaval, vimos o samba nas avenidas sob o ponto de vista da organização, do processo, da mesma forma com a qual a moderna carne brasileira é produzida e vendida no mundo todo. Ou seja, de histórias de superação não temos falta no agronegócio brasileiro. Não temos falta no setor sucroenergético que supera a cada dia depois de ter passado pela última crise em 2014. Temos uma representante como a Beth Farina, presidente da UNICA, com tamanha integridade e competência. Basta querer ver. E o ano exige foco nos fundamentos do negócio. O ano exige ênfase em vendas. O ano exige clarificar. E, com quem vamos nos relacionar para irmos ao futuro!?

Na minha tese de doutorado, batizada “A pedagogia da superação”, realizei vários estudos com grupos humanos e observei pessoas que, sob circunstancias difíceis superaram. Fiz a comparação com outros, que sob as mesmas condições fracassaram, fraquejaram e se permitiram ao abandono. Sim, ao desistir abandonamos, e acima de tudo, abandonamos a nós mesmos. Nesse estudo encontrei 10 fatores vitais, essenciais presentes naqueles que aprenderam a superar. Sim, é uma pedagogia. Significa conhecer, ter possibilidade de aprender, de ensinar e de ser algo viável como aprendizagem. Dessa forma, para superar precisamos tomar consciência e desenvolver esses 10 fatores fundamentais:

1- Limiar de dor: Pessoas que superam são muito mais resilientes, sofrem, choram, caem, mas sabem suportar dores que afugentam e atemorizam aqueles que não superam.

2- Protagonistas versus vítimas: Pessoas que superam foram ensinadas ao protagonismo, jamais vitimização.

3- Talentos e habilidades: pessoas superantes guardam dentro de si um dom, uma vocação. Sabem fazer obras extraídas de si e, com esse poder geram fatos para superação das circunstancias.

4- Amabilidade: gente que supera é amável. Quer dizer atraem ajuda. Os fatores incontroláveis, a incerteza e o acaso estão presentes na ordem do universo. A amabilidade atua como fator de atração das ajudas e de caminhos de oportunidades. Terminam por receber dos outros, luzes inestimáveis.

5- Engajamento em profundidade. Gente que sabe superar é engajada. Atuam na vida comprometidos em corpo, alma e espírito. Dessa forma enxergam e captam o que escapa a maioria.

6- Capacidade de amar. A superação exige amor. Significa concentração e foco, e um olhar apaixonado pela causa, pela coisa, pelo objetivo a ser superado. Amar será sempre a capacidade da renovação do amor.

7- Crianças vivas dominantes: adultos que superam são aqueles que conseguem manter suas crianças vivas interiores fortes, curiosas, estimuladas, vibrantes e animadas. Aprendem a aprender.

8- Inteligência emocional: a superação ao ser obtida exige estabilização, inteligência emocional. As disrupturas foram grandes, e é chegada uma hora de construir em alicerces firmes.

9- Foco priorizado em valores: os valores fundamentais e eternos precisam estar presentes, e preservados, como uma coluna dorsal sobre a qual as lutas existirão, mas serão as fortalezas, as sabedorias que nos farão vencer não apenas a curto, mas a longo prazo. A superação que vale é aquela que pode ser julgada pelo tempo.

10- Criatividade: o poder criador humano é um talento divino, uma competência que nos permite criar valor a partir da própria vida e sob quaisquer circunstancias. Criamos do lixo, criamos da crise, criamos do nada, e podemos criar com o que já temos nas nossas mãos, como exemplificamos na música, tocando sucessos diferentes com os mesmos 4 acordes.

Esses 10 ingredientes encontrei nos meus estudos e estão presentes nos casos e seres humanos que superam. Neste ano de 2016, temos mudanças para enfrentar, sistemas internacionais em conflito, choques multiplicados e alavancados pela interatividade mediática. “Disruption“ é um nome desta era. Mutação acima de transformação. Velocidade. Gerações midiáticas, quer dizer imediatas e mediáticas. Porém, será exatamente desta era, que veremos sair uma maior consciência de sustentabilidade, de saudabilidade, de empreendedorismo e volta a um novo campo, ao melhor cooperativismo e ao inexorável ser humano global.

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*Todo o conteúdo contido neste artigo é de responsabilidade de seu autor, não passa por filtros e não reflete necessariamente a posição editorial do Portogente.

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